23
janeiro
2015

Entre suíços e carteiras

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie

Estava com vários produtinhos para fazer post, mas daí vim meio que de forma não planejada para BH, sem câmera nem fotos, então nem tenho muito o que postar até a volta, a não ser meus “causos”. Passei o fim de ano em BH e depois fui a Porto de Galinhas com minha família. Foi, claro, super legal! Retornei pra minha casa e comecei a fazer uns projetinhos (é essa a palavra que pessoas à toa dão pras coisas né HAHAHAHAHA), além de resolver picuinhas. Gente,é tanta picuinha que vocês não acreditam. Uma das coisas que eu resolvi fazer por agora é tirar a carteira de motorista alemã. Eu quase me arrependo de não ter feito ano passado, mas sinceramente foi muito corrido e não sei como poderia ter tirado antes. Paciência. A nossa carteira brasileira só vale lá por 6 meses, então a minha já era. Ao transcrever, a gente não precisa começar o zero e o preço final fica metade do que seria. Mas temos que fazer as provas teórica e prática e outros detalhes mais.

Penelope Charmosa (1)

Eu na verdade mal dirijo por lá, pois moro muito central e, quando preciso de transporte, o bonde, a bicicleta e carona do marido servem bem. Só que ao começar o processo de busca por trabalho, concluí que preciso de uma carteira de motorista válida antes de sair mandando currículos por aí – pois tenho em mente não minha própria cidade, mas algumas ao redor, para as quais ir de trem seria algo entre inviável ou extremamente demorado. Tenho até uma pequena fantasia de trabalhar na Suíça (mas morando na Alemanha), que tem suas vantagens e desvantagens. Um empurrãozinho nesta idéia foi quando vi que eles valorizaram ainda mais o franco suíço frente ao euro na última semana – isso é até bom pro país da moeda desvalorizada, porque fomenta muito a economia, os produtos ficam muito competitivos para a venda. Por outro lado, acho meio chato pro cidadão comum, que vê seu dinheiro desvalorizado em outros países. Se a minha cidade já era invadida por suíços querendo torrar seus valiosos francos (pra eles a Alemanha é tipo um Outlet de Miami, rs), agora estão vindo caravanas lotadas, é suíço pra tudo quanto é lado, você vai andando na rua e ouvindo aquele sotaque maravilhoso (#sqn).

sehtest_01

Como eu não estava esperando viajar, consegui pelo menos resolver todas as burocracias de carteira em tempo recorde e deixar tudo pronto para eu já voltar e fazer a primeira prova (teórica). Vejo muitos brasileiros reclamando dessa prova, porque você tem que estudar algumas milhares de questões para então fazê-la (eles tiram 30 questões do banco). A minha opinião é que não importa se são 10 ou 3000 questões, você viu todas antes, não dá pra reclamar. Quem dera se as provas da minha vida tivessem sido todas assim. A prova prática já são outros quinhentos. Eu dirijo até bem, houve uma época em que eu pegava a “estrada da morte” (BR 381 BH-Monlevade) todo final de semana, fora o trânsito maluco de BH em que sempre me dei muito bem. Só tem um problema: eu passei a última década fugindo de baliza. Eu realmente tenho horror a baliza. A que fiz no dia da minha prova em BH (há mil anos) foi uma dádiva e eu acertei não sei como. Fora que na Alemanha tem muitas picuinhas e particularidades – sem conhecê-las, o risco de atropelar pedestres e ciclistas dentro da cidade é bem alto, e de bater o carro também. Exemplo: há sinais que ficam verde para você e para o pedestre ao mesmo tempo. Por isso sugere-se fazer pelo menos 4 aulas práticas antes da prova prática. A notícia boa é que, por motivos óbvios, me livrei do curso de primeiro socorros que os outros têm que fazer. A notícia ruim é que não me livrei de fazer um “exame de vista” numa ótica.. kkkkkkk quando eu falo que minha vida não é fácil!!! Meninas, na hora que a moçoila do “exame” me mostrou os símbolos de Landolt e começou a me explicar como que era o exame, me baixou um Chandler-interno e eu pensei em pelo menos 10 coisas sarcásticas que eu poderia dizer. Mas no fim, ouvi pacientemente as explicações só concordando com a cabeça sem qualquer observação. Story of my life.

Beijos!

20
novembro
2014

Sobre lutas e conquistas

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie

Desde junho eu não alimentava meu “Diário de uma expatriada newbie“, então bora lá! Eu sumi na última semana e quem me segue no Instagram já sabe o porquê. Senta que lá vem a história…

Em janeiro deste ano eu estava aqui, apesar de só ter vindo de mala e cuia em abril. Naquela ocasião as coisas estavam dando errado com a papelada do casamento, eu estava estudando para minha prova de título no Brasil e, um dia, quando pensei em tudo que deveria fazer em 2014, eu meio que dei uma piradinha. Meu santo marido, talvez a pessoa mais otimista que já pisou neste planeta, me fez sentar à mesa, pegou um papel e um lápis e com sua ~terrível~ caligrafia começou a fazer uma listinha. Era a lista de todas as coisas que eu deveria fazer em 2014 para que, no fim dele, eu visse que superei todas. Segundo ele. Enquanto ele a escrevia, eu, com lágrimas nos olhos, cética em relação a todos aqueles ítens, senti ódio daquela lista. Assim que ele se levantou eu não só não a guardei como rasguei e joguei no lixo imediatamente. E o ano começou a passar.

wayO longo caminho que foi 2014

Realmente – que ano intenso foi esse! Foi desafio seguido de desafio e tudo temperado com o fantasma da saudade, da mudança, da adaptação. O pior de todos eles aconteceu há dois dias. Ao longo do ano todo fui cumprindo requisitos para revalidar meu diploma (isso porque já tinha cumprido o da língua há anos). Na última semana do meu estágio no hospital de olhos daqui eu finalmente recebi um e-mail me convocando para a prova de equivalência – a etapa final. O único porém: eu teria que reaprender medicina em alemão em 3 meses. Fora matérias específicas que não temos na faculdade, tipo “medicina jurídica alemã” e “proteção da radiação”, oi?). Para no final fazer uma prova prática e oral – se passasse, receberia minha Approbation, que é mais que uma revalidação ou permissão para trabalhar, é o mesmo documento que os médicos alemães têm (isso só é possível desde 2012, antes era só a permissão).

Tenho algumas colegas oftalmo que lêem o blog e acho que elas entendem o tanto que é sofrido estudar coisas desde anatomia do ombro até fibrilação atrial quando, nos últimos anos, você esteve ocupada com aquela coisinha na cara que se chama OLHO. Fui passar 5 semanas no Brasil com meus livros na mala e nas primeiras sentadas eu senti que seria impossível. Todas aquelas palavras eu mal tinha no vocabulário passivo, como as passaria para o ativo em tão pouco tempo? E eu mal lembrava o que era um coração! Rs! Eu diria que, nesse processo, aprendi mais de mil palavras novas. Vi também o quanto a medicina tem coisas diferentes de um país para outro – conceitos que eu julgava serem universais simplesmente mudam, os nomes das doenças mudam. Pequeno exemplo pras colegas – aqui se testa Blumberg na FIE! E se você falar de Graves ninguém sabe o que é – tente Morbus Basedow. E assim foram os meus últimos três meses – muitas, muitas horas sentada na cadeira estudando.

zeroglamourVida real, amigas…

Sobre as provas na Alemanha há duas curiosidades: é o país das três chances e o país da prova oral. Minha experiência no Brasil com prova oral era mínima e isso me deixava mais ansiosa. Aqui, se você estuda direito ou medicina e não passa na terceira tentativa da prova estatal, acabou! É como se tivesse ido à faculdade à toa. E isso serve para várias outras provas. Com a minha não foi diferente.

Paguei 500 euros(!!!) pra fazer a prova, só teria três chances (imagina a ansiedade de uma segunda/terceira tentativa?) e se eu não passasse agora teria que esperar em média 8 meses para tentar novamente. Estou no pior Estado para isso, o meu não permite trabalhar de verdade sem esse documento – e eu não pretendia ir para outro estado. Daí juntou-se toda essa ansiedade e lá fui eu anteontem para outra cidade fazer a prova. Parecia que estava indo para um front de guerra, aquela sensação horrível no corpo todo.

antesFoto que tirei imediatamente antes de entrar para a prova.

E, nem do auge do meu pessimismo eu consegui “acertar” minhas previsões: era pior do que eu pensei, muito pior. Os avaliadores eram pessoas gentis, mas aquela situação – não desejo nem pras inimigas. Foram 5 horas de tortura. Como eu consegui me controlar, só Deus sabe. Quando me chamaram de volta à sala para me dizerem que eu tinha passado, não consegui segurar as lágrimas, o que levou os velhos professores alemães à gargalhada. Sim, é por causa de pessoas como eu que os brasileiros têm fama de chorões. HAHAHAHA Mas era um choro de quem tira 1000 toneladas das costas – há tanta coisa por trás que eles não poderiam nem imaginar. Liguei pro meu marido e depois mandei whatsapp pra minha irmã. Disse que estava com vontade de sair correndo pelada e gritando de tanta alegria – olha que estava frio! Mas isso não fiz não kkkk!

saidaAssim que saí do hospital o dia estava feio assim, mas vi tudo cor-de-rosa, haha

E agora – é vida que segue. Currículos, entrevista… E continuar estudando outras coisas, sempre! Tudo depois das minhas merecidas férias, claro! Agora eu não preciso mais responder àquela pergunta chata “mas vai dar pra exercer lá?” que eu tinha que responder em média 20x por semana, desde às amigas até à cunhada do sogro da prima. Sério, eu não aguentava mais.

E sabe o que é o melhor? Eu nunca mais na minha vida terei medo de prova alguma. Simplesmente porque pior que essa não existirá jamais. Minha relação com o país mudou imediatamente – pequenas timidezes do dia-a-dia estão evaporando como mágica. Ter medo de que agora? Eu já ando de cabeça mais erguida. E diria que já estou 98% adaptada, eu amo de verdade a Alemanha e brinco que, mesmo se levar um pé na bunda, eu não vou embora mais não. 🙂

Por isso que falei naquele postfora da zona de conforto é que a mágica acontece. That’s magic, my friend.

comfort

Obrigada às leitoras que estavam torcendo junto. Sei que são muitas e agradeço de coração!

Beijos de quem não queria ter rasgado aquela lista!

17
junho
2014

Um dia após o outro

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie, Viagens da Ana

Nos últimos dois meses finalmente resolvi coisas chatas, como conta no banco, seguro de saúde e visto de permanência. Essas coisas resolvidas, fui seguindo minha vida aqui, que foi melhorando à medida que parou de chover e fazer frio, hehe! É incrível como tudo fica mais feliz quando o céu está azul! Chegou a fazer tanto calor quanto 38 graus (aí eu já não gosto), daí você vê todo mundo feliz na rua com seu sorvetinho. E, até eu, que não sou das mais fãs de sorvete, entrei na onda. Aliás, foi dada a largada da temporada de topless por aqui. Basta uma graminha que os alemães começam a tirar a roupa – eis um povo sem pudor nenhum com a nudez. Sauna mista, praia, piscina, povo tira a roupa meeeeeesmo! Aqui tem umas piscinas pagou-entrou, que lembram os clubes no Brasil, e acho muito agradável. Levei minha manta de picnic nova e fiquei lá estudando sob a sombra das árvores.

sun

Isso porque fui a Stuttgart fazer uma prova-entrevista na câmara de médicos, morrendo de medo, é claro. Mas foi tranquilo e deu tudo certo e no final veio aquela sensação maravilhosa de dever cumprido. Mas a luta continua!

stu

Fomos a uma cidadezinha que nunca tinha ouvido falar lá nos cafundós da Alemanha. Se chama Goslar, e é uma das poucas cidades do país que não foram destruídas pela guerra. Achei muito peculiar a arquitetura, casinhas tortas, tudo muito fofo. A família Siemens é desta cidade, e lá eles têm um casarão onde fazem um encontro anual:

siemens

Mas me senti em Forks, enquanto toda a Alemanha estava ensolarada, lá estava frio e nublado. Fomos para um encontro da família, que aliás é outra mania nacional por aqui. O hotel no qual ficamos estava 100% lotado por causa de dois “encontros familiares”. Ah, esses alemães!

goslar

No mais, já noto progresso com a língua, ainda bem. Eu chego todo dia em casa e anoto expressões e palavras novas no meu glossário pessoal oftalmo-alemão, que acho que vai virar uma bíblia, no fim das contas. kkkk Eu tenho cozinhado só nos finais de semana, porque durante a semana a gente come no hospital. Mas te falar que tenho me surpreendido com a minha evolução na cozinha – graças à internet tenho feito coisas bem gostosas. E já tenho mais noção das coisas, há um tempo eu só conseguia cozinhar se alguém me falasse EXATAMENTE quanto colocar de sal na receita, por exemplo. Dia desses fiz jantar para 6 pessoas e foi uma oportunidade perfeita para usar meu WOK gigante! O arroz ficou meio empapado (nunca tinha feito tanto) mas o resto ficou muito bom, fiquei orgulhosa!

food

Em um dos passeios à feira de flores, encontrei vasos de Edelweiss para vender. Eu tinha uma curiosidade enorme de ver essa flor ao vivo, e encontrei quando menos esperava. Não comprei porque ela é realmente feia como eu já sabia pelas fotos, mas valeu pelo componente emocional da coisa. (ASSINADO: fã de A Noviça Rebelde). Em vez disso, comprei cravos rosa, achei tão fofos!

flores

No mais, a Alemanha está total no clima de copa. É Brasil aqui, Brasil ali, não existe uma categoria de produto sem sua versão Brasil. Eu adoro e estou aproveitando bem essa fase SÔ FEIA MAS TÔ NA MODA. kkkk Queria mesmo ver ao vivo e a cores em BH, mas fazer o quê, né!!!

brasil

Tive meus surtos consumistas esse mês. Foi tênis, sapato, bolsa, produtinhos de beleza (renderão posts separados, claro), acessórios de oftalmo… fali! Bom, mas o que estamos querendo mesmo é comprar um piano. Estamos visitando a loja de pianos quase todo final de semana, o dono nem aguenta mais ver nossa cara. Por ora, só sabemos que tem que ser piano não-elétrico, com pedal silenciador, usado (porque né $$) e condição sine qua non é ser de marca alemã, porque aparentemente é uma vergonha enorme para um alemão ter um piano não-alemão em casa. kk

pia

Saudades de BHills apertando, mas se Deus quiser estou na área em Agosto pra conhecer meu primeiro sobrinho XY, o Dudu!

* PS: essa categoria de Expatriada Newbie eu faço baseada em fotos que vou tirando com meu celular ao longo dos dias, por isso a qualidade não é boa. Mas vocês não se importam, né? 😉


Beijos e vai BRASILLLL!

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