14
junho
2015

Diário: uns pequenos detalhes

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie

Não tenho lá muitas novidades para contar – acho que vida real é assim mesmo, né? Tudo bem manso e paradinho, mas seguem algumas humildes highlights. 🙂

Agora que está tudo verdinho e florido parece que a vida fica mais fácil, viu?
anajardim

Já estou adaptada ao trabalho – sempre escuto a voz do meu pai dizendo “o ser humano se adapta a qualquer coisa“. Verdade verdadeiríssima. Às vezes esqueço que não estou no Brasil – outro dia entrou um português (que só falava português) e eu fui conversar com ele e eu ficava tacando frases alemãs, misturando tudo. Nem eu entendi o que aconteceu. EU HEIN!?!?! Sai fora, Maria Preá!! Obviamente não esqueci português, mas é que naquele ambiente meu cérebro fica condicionado. O mesmo acontece com inglês, que teoricamente falo melhor que alemão. Muito estranho, uma coisa meio pavloviana.

Eu vinha namorando essa almofada numa vitrine aqui perto de casa há tempos. É fofa e bizarra ao mesmo tempo. Só que sempre desistia de comprar pois pensava “ah, não tenho onde colocar“. Mas daí me deu a louca e comprei pra decidir depois. Tenho chaveiro de flamingo, meia de flamingo e agora essa almofada. Por acaso tenho visto várias coisas de flamingo recentemente, será que tá na moda? Trouxe pra casa e testei em vários lugares. Daí tchanannnn achei que deu uma alegria pra essa poltrona véia sem graça, vai ficar aí mesmo ! 🙂

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Foi dada a largada na temporada de churrasco. Até nós já compramos uma churrasqueirinha nova pro verão, porque vem minha família, incluindo as babies! 😀 Já fomos a “N” churrascos na casa de amigos, família … basta um solzinho. Churrasco aqui é aquele esquema: salsicha, frango, milho, cordeiro, porco, camarão .. bem diferente dos brazucas. Como eu não sou fã de carne vermelha, nem reclamo! Na verdade, minha comida de churrasco favorita é o milho! hahaha…

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Finalmente adquiri a “perfeição pãodequeijística” por aqui. Custou muito, viu? A cada receita eu anotava alguma coisa pra mudar na próxima. Daí aconteceu: meus últimos pães de queijo estão com gosto 100% de pão de queijo mesmo, fiquei super feliz. Faço a receita do Gui Poulain e misturo queijo feta com parmesão. O polvilho compro na Casa Portugal ou na Amazon! Congelo em saquinhos e quando dá vontade eu faço e me sinto em Beagá! Além disso congelei muito feijão e coxinha. Isso pra mim é luxo !

rotinaoaideque

Eu AMO tomar café quentinho no final de semana e, sei lá, numa caneca fofa me dá uma alegria especial. Psicológico, né? Só que, vejam vocês, eu só tinha uma caneca fofa (da Isaura do Snoopy) então comprei mais uma, pra eu continuar feliz quando a outra estiver na máquina de lavar louça.

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Tirando isso, estou muito viciada em passear de bicicleta. Quando voltar a esfriar acho que vou ficar deprê, porque bicicleta no frio é muuuuito desconfortável. Por isso, por mais que esteja com preguiça, se é final de semana e o dia está bonito, lá vou eu passear. Durante a semana uso alguns dias para ir trabalhar também – já estou ficando até meio atrevida igual aos Friburguenses. Tinha medo de andar de bicicleta no trânsito aqui (muitas vezes ao lado/frente dos carros) mas estou perdendo.

rotinabike

Fora isso, foi dada a largada dos carros conversíveis. Aqui carro é beeeeem mais barato que no Brasil e não precisa ser rico pra ter conversível. Pena que só dá pra usar assim na primavera/verão, porque é uma delícia. Andei à la Beverly Hills teens no carro de um amigo, fiquei descabelada mas achei o máximo. E o melhor é que não chama atenção, porque, como disse, não é coisa de rico e tem trocentos outros conversíveis na rua ao mesmo tempo.

anaconv

É isso, bora lá ! Desejo a vocês uma semana maravilhosa!

Beijos!

03
maio
2015

Dores do crescimento, ou: a volta à labuta em um novo país

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie

Após algum tempo de volta à ativa, seguindo a sugestão da querida Elisa, vou compartilhar um pouquinho (das sensações) de como está sendo voltar ao mercado de trabalho em um país diferente, em uma área tão “complicada” como a medicina.

Bom, tem sido matar um leão por dia, mas o leão é a cada dia menor. Vou poupá-las de mais detalhes, mas são muitas as diferenças. Fora isso, o cansaço é algo que nunca experimentei antes. Não nesse nível… Uma mistura de cansaço físico e mental. Físico porque realmente é um volume muito grande de trabalho, e tudo tem que ser feito muito rápido.

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Mental pelas diferenças, novas adaptações e a língua. Sim, eu falo alemão avançado. Mas no dia-a-dia estou fazendo uso da língua no seu patamar mais alto, e ativamente e umas 10 horas por dia. Não é nível C1 coisíssima nenhuma, mas sim C2 pra coisa funcionar. Por isso que é MEGA justo que peçam um nível alto para revalidar o diploma, ou de fato não seria justo com os pacientes. Não acho fácil explicar a rebimboca da parafuseta em alemão, não mesmo. Na hora do vamuvê, ninguém quer saber se sou estrangeira, e tenho que dar conta do meu trabalho igual a qualquer colega que cresceu, estudou e trabalhou aqui por anos. Por outro lado, não há espaço para temer erros – eu tenho que me comunicar, então com ou sem dúvida eu dou o meu jeito e os pacientes entendem. Alguns chegam falando dialeto (Schwäbisch, Badisch ou Alemmanisch, depende do lugar) e eu quero morrer. Isso, como já imaginava, tem seu lado bom: ao fim do dia eu já melhorei em todas as esferas da língua (fala, escrita, ouvido, leitura), é o mais intensivo dos cursos de língua que eu poderia ter. Nem consigo estimar o quanto terei melhorado daqui a um ano. Mas isso tem seu preço – que é chegar em casa e desabar no sofá sem nem conseguir mexer o corpo mais. Mas quando estou saindo de casa (super) cedinho, vejo todas as pessoas indo às suas lutas diárias e daí respiro fundo e consigo sentir a alegria de estar trabalhando. Essa satisfação supera as dificuldades – fora que lutei foi muito pra isso! Voltei a ter minhas coisas, muitas histórias para contar (boas ou ruins, são MINHAS), meus colegas, meus perrengues, minhas conquistas, meu dinheiro, minha independência. E, às vezes, eu até consigo sentir um tiquinho de orgulho de mim mesma. E…acontece diariamente, de eu estar no meio de um exame – em um flash me dou conta do que está acontecendo e me dá uma alegria intensa de ter esse privilégio. Afinal, fiquei uns 8 meses sem fazer isso e, quando mudei, tinha um temor lá no fundo de nada funcionar e eu nunca mais ter isso novamente. E, na minha profissão, quanto mais se espera, mais difícil fica de voltar. Estou aprendendo bastante também e, como sempre acontece comigo, quando tenho rotina consigo estudar bem mais! Como vocês podem ver, não é um mar de rosas – mas os grandes aprendizados da vida vêm assim mesmo. Se a gente fica muito confortável, provavelmente é porque não está evoluindo muito mais.

leao2

É claro que a dor é inevitável – mas sou muito grata por ter maturidade de saber que são dores do crescimento. Quando eu era mais nova e sentia no peito essa angústia da mudança (nunca gostei de mudanças) era terrível porque eu não sabia que iria melhorar. Daí, após acontecer trocentas vezes, comecei a perceber que sempre melhora. Por isso, hoje sei que os rostos estranhos sempre tomarão contorno, que as novidades sempre se tornarão rotina, que o desconhecido sempre será assimilado e que aos poucos a vida sempre volta a correr mansa. Esse é um resultado do qual se ocupa fatalmente o passar do tempo. A angústia, por exemplo, eu já não sinto mais. Acho que em um, dois anos, serei uma versão melhorada de mim mesma, graças às dores desses dias.

Assim espero!

Beijos da blogueira que agora só funciona com post programado

26
março
2015

Onze meses morando fora – uma retrospectiva

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie

Engraçado pensar que em meados de abril vai fazer um ano que me mudei para cá. Pensei então em fazer uma pequena retrospectiva de tudo o que aconteceu – acho que quase tudo já apareceu um pouquinho por aqui, mas vale a pena ver de novo! A maioria das pessoas faria retrospectiva de um ano, mas como eu sou estranha, vai ser de onze meses mesmo!

Os primeiros seis meses e essa adrenalina toda

Após meu casamento, ainda fiquei uns 20 dias em BH porque tinha a prova prática da minha prova de título para fazer. No início fiquei na dúvida se faria essa prova, porque para mim não era obrigatória e porque, dentre outras coisas, ia adiar minha lua-de-mel, mas é a vida, né? hahaha E hoje acho que foi uma sábia decisão! Não é que valorizam muito essa prova por aqui?

tulpen

Cheguei então em meados de abril e alguns dias depois me registrei na prefeitura, que é algo obrigatório a fazer quando se reside aqui (e o prazo é curto). Depois resolvi burocracias, que não foram poucas,por exemplo: visto de permanência, seguro de saúde, traduções e envios de documentos para começar o processo de revalidação de diploma… Duas semanas depois comecei o tão aguardado estágio em uveítes no hospital aqui da cidade. Foi bom, mas imaginava algo diferente – mas ok, super valeu para aprender sobre o sistema, mais vocabulário técnico, as diferenças, tecnologias … No meio do estágio, tive uma pequena entrevista-prova junto à câmara dos médicos, para “provar linguagem técnica“. Daí, na última semana do estágio, em agosto, recebi o aguardado e-mail chamando pra prova final.

freiburg

E por acaso fui passar 6 semanas nem BH – foi uma época em que estava com dificuldade de “cortar o cordão umbilical”, o que explicou a viagem longa. Nesta viagem mesmo percebi que visitar BH é legal, mas fugir não é o caminho. Lá percebi que também sentia saudades daqui, muitas saudades. Que já tinha começado a ver aqui como meu lar também. Que coisa doida! Daí foram três meses daquela preparação louca para a última prova de revalidação, que contei aqui. No meio disso dei um jeito de finalmente viajar de lua-de-mel para Roma e foi tãaaao bom e importante para desestressar! Daí prova cumprida, maior alegria da vida!

Tentando voltar aos trilhos

Depois – férias merecidas no Brasil e daí voltei pronta para começar a buscar trabalho, resolver carteira de motorista… mas um imprevisto de saúde com um familiar (agora 100% graças a Deus) me mandou de volta para BH! Mas daí voltei e as coisas foram se encaixando mais e mais. Recebi a visita super espontânea de uma amiga querida, e aproveitamos para passear bastante e viajamos também. Vi como o Castelo de Neuschwanstein é diferente (talvez mais lindo) no inverno, principalmente este lago (Alpsee) que acho a coisa mais linda do mundo:

alpsee

As oportunidades são como bondes

A época da visita foi perfeita! Pois, assim que ela foi embora, surgiu a oportunidade de colaborar com um capítulo de um livro que está sendo organizado pela professora que eu mais gostei na faculdade toda (e eram muitos professores haha). Estava muito tensa e ocupada com outras coisas, mas o “alarme da oportunidade” tocou e não pensei duas vezes. Com isso gastei muitas e muitas e muitas horas, mas fiquei muito feliz de ver o trabalho finalizado. E lembrei do quanto gosto de escrever e de quanto queria ter mais oportunidades assim! 🙂 Falando em oportunidades: alguém um dia me disse que a oportunidade é um bonde, ela passa e você pode vê-la passando e ela nunca mais voltar. A frase hoje não me faz literalmente muito sentido, pois bondes sempre voltam – mas continuo lembrando dela sempre que vejo uma chance passando. Por isso, por mais medrosa que eu seja, tudo o que me cheira a oportunidade eu agarro mesmo! E foi nessa que consegui um emprego aqui do jeito que eu queria – eu achava que ainda não estava pronta, mas vi o bonde passando. Não foi nenhum atalho, mas sim o pacote completo – com direito a currículo neuroticamente montado, telefonemas e entrevista. Com zero favores de amigos e conhecidos. Fiquei muito feliz em ver que nem precisei dar passos para trás, mas pude recomeçar de onde parei no Brasil. Estou sendo valorizada aqui dentro da minha profissão, sem nenhuma desvantagem por ser estrangeira. Se isso não é um país aberto ao estrangeiro, não sei qual é. Por tudo que observo aqui, a Alemanha leva a sua dívida histórica muito a sério.

auge

Se eu puder dar uns pequenos conselhos …

É engraçado como a vida muda em 11 meses. E tudo que somos capazes de fazer nesse tempo – mesmo que isso signifique virar tudo de cabeça para baixo e recomeçar várias coisas. É também aprender a engolir o orgulho e levar as besteirinhas com bom humor. 🙂 É também dar mais valor ao que conquistamos e a certas coisas que passamos a vida toda “taking for granted”. A gente sempre consegue! Não precisa ser gênio nem ser nerd, nem ser nada em especial – só não pode deixar o bonde passar, e este é o conselho número um.

Neste último ano, aprendi que preciso acreditar mais em mim mesma e só dar ouvidos a quem realmente gosta de mim. Quem já não faz isso, sugiro que siga este conselho número dois. Pois estas pessoas sempre nos dizem que vamos conseguir. Que seja para te injetar ânimo! Por outro lado, as frases desmotivadoras que ouvi foram tantas, tantas… e às vezes eu quase me deixava levar por elas. Isso não é privilégio meu, acontece com todos nós, não é? Os famosos vampiros de energia. 🙂 Pois segue o conselho número três: não comunique seus planos a qualquer um.

E é engraçado que os “malogradores de propósito” não têm mais o que falar para mim. Quer dizer, de vez em quando tentam como num último suspiro algo do estilo “nossa, mas demorou, NÉAM?!!“. Haha… Já que vampiros nunca estão satisfeitos, só nos resta dizer uma coisa para eles (este é o conselho número quatro):

hahaha, não resisti!!! Mas foi só uma piadinha mesmo, no hard feelings. 🙂 Mas digo isso não para vocês, minhas amigas-leitoras queridas. A vocês eu só tenho que agradecer, sempre, por trazerem mais leveza aos meus dias. Os relatos de adaptação irão se esvaecer com o tempo, à medida que a vida volta toda aos trilhos. Era isso mesmo que eu queria… 😉

Beijos da expatriada não mais tão newbie assim

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