Muita coisa mudou desde que a internet começou a ter papel tão importante em nossas vidas. Coisas boas vieram aos montes (se não fosse ela eu não sabia nem picar cebola), mas vieram coisas ruins também, não se pode ter tudo. A invasão de nossa intimidade por escolha própria ou não, a necessidade de aparecer e bisbilhotar ao mesmo tempo. Tem gente que se for para viver algo lindo sem poder mostrar em redes sociais até prefere ficar quietinho em casa. Taquicardia, falta de ar naquele momento em que se está de frente à Torre Eiffel mas sem nenhum artifício tecnológico para “provar” que aquele momento aconteceu. Mas.. provar para quem!?
Por causa do meu círculo de amizades/meio, acreditem, eu sou disparada a “pessoa mais tecnológica” que conheço ao vivo. Tenho até que me policiar para não virar “a chata do celular na mão” e o registro de um jantar romântico com meu marido tem potencial de virar problema conjugal (been there, done that). Tenho algumas amigas que NUNCA tiveram uma rede social sequer – nem Orkut, nem Facebook, nem Twitter, nem Instagram e nunca sentiram falta disso. São pessoas igualmente divertidas e interessantes. As redes sociais nos amarram a elas vendendo a idéia de que “estaremos por fora” se não fizermos parte. Eu, que sou expatriada então, já tentei deixar e não consegui, sempre penso “mas e como ficarei em contato com ciclano, fulano?”. No fundo eu sei que quem me importa de verdade eu acho por outros meios, mas… é tão difícil!
E um ponto do vídeo é claro: ninguém gosta de ouvir reclamações ou tristeza. Quer dizer, todo mundo é meio abutre-curioso quando se trata de tragédia de grandes proporções, mas no geral, o povo quer é ver luxo, riqueza, inteligência, beleza. Se não fosse assim, os cafés-da-manhã das novelas não seriam tão maravilhosos. Isso gera uma visão enviesada da realidade de quem conhecemos mas não acho que, ao dividirmos só o que é bom, o fazemos por mal. Só que isso em mentes férteis gera espaço para muita insatisfação com a própria vida. Eu mesma já me peguei resmungando ao ver fotos de ciclana boiando na água morna do Tahiti enquanto eu ia trabalhar nos fundos de uma igreja velha com telhas de amianto sob o sol feroz de Santa Luzia. Acontece!
Sobre o vídeo, levanto dois pontos:
1) Eu não gosto muito da idéia de sentir feliz e aliviado vendo o vídeo por saber que “ah, bom, quer dizer então que fulano não é tão feliz coisa nenhuma, ufa!”. A vida do Ciclano é uma maravilha? Que bom pra ele. O sucesso do outro não deve nos incomodar, se incomoda há algo a mudarmos em nós.
2) A segunda questão é que, realmente, vida perfeita não existe. Para começar, é difícil ter todos os fatores externos aclamados pelo mundo ocidental em consonância: dinheiro, beleza, amor, saúde, top carreira, top família, juventude e inteligência. Segundo, ainda que você possua tudo isso, sempre haverá o risco de perder qualquer um desses, é um risco incontrolável que, por si só, pode levar muita gente à depressão. Resultado: “vida perfeita” mesmo só tem aquele que cultiva a alegria dentro de si, por mais piegas e clichezão que isso possa parecer. Chame a alegria interna de Deus, de consciência, de fluoxetina – não importa. O que importa é que ela deve vir de dentro. Lembrando que estômago roncando não deixa ninguém ser feliz, então o equlilíbrio é a chave de tudo.
Finalizo batendo em uma tecla importante: estou longe de ser life coach e muito, MUITO longe de ter uma vida perfeita (por dentro ou por fora) ou de ser perfeita. Nem precisa cafungar muito minha vida para saber disso… Aliás, nada mais pesado do que ter nas costas a obrigação de ser perfeita – tô fora. E está bem assim. 🙂
O vídeo me fez pensar não no sentido de que “ninguém é tão perfeito quanto parece”, pois isso eu já sabia. Mas me fez perceber melhor o potencial destrutivo das redes sociais e, estando no meu papel de blogueira (ainda que de meia-tigela) me senti na obrigação de dividir esses pensamentos.
O que vocês acham dessa história toda?
Beijos imperfeitos