04
abril
2016

Como aprendi alemão

Postado por Ana em Alemanha, Coisas da Ana

Eu tenho impressão que minha história com a língua alemã é bem diferente do que muitos pensam. Bem menos admirável e inspiradora, pois quem me pergunta isso geralmente tem um objetivo e quer aprender logo! 🙂 O ano era 2003 e eu tinha acabado de passar no vestibular. No ano anterior, quis aprender francês, mas por causa dos estudos não tinha como. Minha irmã me copiou e, teimosa que sou, mudei de idéia. Pensei: “vou então aprender uma língua bem diferente do português”. Como sempre gostei de coisas da Rússia, me decidi pelo russo. Na época, procurei escola/professor de russo em BH e não achei! Daí, um dia, vi um ônibus passando com a propaganda do Cultura Alemã em BH. “Hummmm, alemão, por que não?”- fui lá e me matriculei.

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A forma como estudei alemão foi bem diferente de como estudo línguas hoje (tema para outro post). Eu não tinha nenhum objetivo envolvendo a Alemanha. Eu sequer tinha curiosidade de vir para cá (que veio depois graça às lições de comida dos livros). Muito pelo contrário, queria que fosse meio uma “slow food” no aprendizado de línguas. A faculdade era bem puxada nos primeiros dois anos e o sábado de manhã era minha catarse. Eu gostava de levantar e ir pra aula – gostava dos meus colegas, que aliás foram diversos ao longo de todos os anos. Adorava a pausa da manhã pro salgado na lanchonete da esquina. Quando a aula era cancelada por algum motivo eu ficava triste de verdade. Uma coisa tenho que dizer: aula em grupo é a forma mais lenta de aprender línguas, caso seja a única forma de estudo. Quem não sabe disso, fique sabendo. Eu não fazia muito esforço em casa – lembro que fazia meus deveres de casa e repassava o vocabulário das lições (que são percorridas super vagarosamente). Eu nem tinha muito tempo porque tinha que estudar pra faculdade à noite! Uma coisa que realmente sempre gostei de fazer foi procurar algumas músicas na internet. Mas fora isso, zero dedicação extra nos primeiros dois anos. Lembro que, após o primeiro semestre, a professora me falou “Ana, seus colegas vão fazer curso de férias, você não quer fazer?“. Eu respondi “Ah, não, não tenho pressa, nem planos de Alemanha“. Acho que tinham uns 14 níveis lá no Cultura Alemã – eu fiz doze pois “pulei” dois quando fiz meu intercâmbio de um mês em Colônia.

Fluência?

Então é por isso que, quando recebo a pergunta “depois de quanto tempo você ficou fluente em alemão?” acho super difícil de responder. Foi um processo muito vagaroso – e por opção minha – não sofri nada por causa da língua. Achei o alemão básico fácil de aprender. Já o alemão avançado e suas nuances, acho muito difícil. Sei que, 3 anos depois, em Colônia, eu me virava bem em alemão (B1/B2) – mas não com muita facilidade, principalmente para ouvir – que foi uma parte fraquíssima da minha escola. O conceito de fluência é complicado. Para começar, ser fluente não significa não cometer erros. Para mim, significa se virar bem sem apertos. Geralmente, quem insiste muito na palavra “fluente” ainda não sabe muito do aprendizado de línguas. E, para ser sincera, eu me senti realmente confortável com a língua em algum momento de 2015. Foi quando eu soube que, se alguém dirigisse a palavra a mim, eu ia entender. Antes era sempre uma incógnita se eu ia entender a pessoa ou não. Meu “ouvido” foi a última parte a se desenvolver bem.

“Métodos”

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Fora o curso tradicional que mencionei, fiz um mês de curso em 2006 no finado Eurocentres de Colônia. Em 2010, um curso de 2 meses na Volkshochschule em Kiel para preparar pro Testdaf. Em algum momento em 2010 fiz dois meses de aula particular com um professor (péssimo) em BH. E foi essa toda minha experiência com aulas. Os livros no Cultura Alemã eram na época o Themen Neu, que depois virou Themen Aktuell e uma série do EM. Não gostava do livros do EM, mas a gramática de exercícios deles foi a minha favorita. Quando comecei a fazer “esforço extra-aula”, após uns anos, foi lendo livros, vendo TV, comprando gramáticas de exercício, lendo notícias, falando, ouvindo, ou mesmo através de materiais para aprender outras línguas. Em um momento era viciada em comprar livros infantis, bem bobos mesmo (mas em termos de vocabulário nem são os mais fáceis de ler). Já tive época de dar download em tudo quanto é app (tipo buzuu, algo assim). E, atualmente, aprendo muito trabalhando. Realmente houve uma época em que comprava uma quantidade absurda de material e ia fazendo em casa mesmo… a maioria esmagadora atualmente está em BH, por isso não tinha muita coisa pra tirar foto. 🙂 Também já fiz muita coisa do site da Deutsche-Welle(que, aliás, tem um curso magnífico) e em uma época imprimi muita coisa de lá, algumas lições que fazia e ia estudando. Até hoje os sigo no facebook e assino a Newsletter, adoro! Já a DW-TV (canal de TV) que tem no Brasil sempre achei uó e nunca consegui assistir. Também sigo outras páginas no Facebook, como o excelente Quero Aprender Alemão. Em relação aos dicionários: acho que fiquei uns três anos só com mini dicionário Michaelis, depois passei pros Langenscheidt. E já faz muitos anos que uso o site/app dict.cc ou Duden Online ou mesmo Wiktionary. Perdi completamente a paciência com dicionários de papel, he he!

Mudar para a Alemanha faz aprender mais rápido?

Só se você estudar. Engana-se quem pensa que morar na Alemanha garante aprender a língua. Eu mesma achava que isso era uma verdade. Até mesmo após mudar para cá, achei que ia “melhorar de graça”. Pois em 2014 minha evolução foi ínfima. Melhorei mesmo quando comecei a trabalhar. Não é uma língua que se aprende por osmose para nativos do português. Eu consigo imaginar facilmente uma pessoa morando dez anos aqui sem aprender direito, caso não estude. Tenho pacientes de outras nacionalidades que moram aqui há 30 anos (!) e mal falam alemão. Por outro lado, super concordo com o Benny. Se for realmente seu objetivo e você “trabalhar com isso”, você consegue atingir um bom nível em três meses. Mas tem que ficar por conta e se esforçar muito.

É isso, sempre recebo essa pergunta e sei que a resposta é muito menos formosa e mágica do que muitos pensam, mas eis aí como foi! 😉

Beijos

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  1. Karol 04/04/2016 às 22:24

    Adorei o post!!!! Em janeiro terminei meu curso de espanhol e a língua me encantou… assisto séries, filmes e até tento escutar música, mas o gosto né?! rs
    Tenho muita vontade de estudar mais um idioma e to entre francês e alemão… queria alemão, acho a cultura incrível ( e olha que nunca visitei), mas as pessoas me falam que é uma lingua inútil, que não existem muitos países onde poderia usar, enfim…Acho que, enquanto isso, vou voltar para o inglês para reciclar minha conversação. Pra mim a escrita e a audição são as primeiras a serem desenvolvidas, o que pega é a fala mesmo!
    Eu acho que em relação ao que você falou de avançar na língua, quando você vai para outro país você tem que se esforçar!! N entra por osmose hahhah, mas eu tenho vergonha de errar na frente de pessoas que eu sei que vou rever… se for alguém que n conheço, to nem aí kkkkk
    Vc sofreu algum tipo de preconceito por, as vezes, não falar a língua 100%?
    bj

    • Ana 06/04/2016 às 01:02

      Oi Karol, isso aí! Fiz mta aula de ingles na vida, mas bem menos q alemao. Diria que 99% do meu vocabulario vem de séries haha
      Ainda nao sofri esse preconceito, ano passado cometia uns erros engraçados qdo chutava algumas palavras especificas de oftalmo e os proprios pacientes me ajudavam, aprendi mto assim hehehe. No inicio, como turista, recebia ate elogios, e recebo até hj – mas nao mto, pq no ambiente de trabalho é meio q “obrigação” falar normal, entao a maioria nem nota o aspecto da lingua – perguntam vez ou outra de onde sou. Bjos

    • Ana 06/04/2016 às 01:07

      só mais uma coisa: nao tem lingua inútil, todas elas te abrem um mundo novo de coisas q vc n podia imaginar antes… Mas eu nao entendo quem diz q alemao é inútil, ate mesmo em termos práticos diretos, putz, traz tanta vantagem.. tanta coisa é em alemao e vem da alemanha. Sem falar na literatura ne…. tradução nunca será! kkkk bjo

  2. Maria Claudiane Pessôa 05/04/2016 às 09:54

    Oi, Ana! Amei as dicas. Quero voltar a fazer curso de línguas, pra espairecer um.pouco desse projeto de inferno chamado universidade haha. Já sou fluente em inglês e, das outras, já aprendi de tudo um pouco, mas não aprofundei nada e acabei esquecendo quase tudo. Esse ano quero fazer espanhol e, quem sabe, dar uns holas lá na terra dos nossos hermanos haha. Amando e acompanhando o PEDA. Beijos!!
    P.S.: Desculpa perguntar, mas quantos anos tu tens? Pareces tão novinha haha

    • Ana 06/04/2016 às 01:03

      èsse eh o problema, qdo a gente abandona lingua no nivel a1 , se nao praticar, esquece tudo mesmo! o ideal é chegar num b2 e manter com literatura ao menos!
      a idade da vovó, em um post de aniversario em abril perto de vc…. kkk bjo

  3. Fernanda P 05/04/2016 às 14:34

    Oi Ana! Sempre achei alemão uma língua super difícil, estranha mesmo, até que, em 2014, fui visitar a Alemanha, e ao planejar minha viagem passei a ter um certo contato com a língua (pesquisa de nomes de igrejas, pontos turísticos etc rss). Engraçado que achei bem interessante, mas claro que não falo NADA em alemão, só que percebi que existe uma certa “similaridade” com o inglês (línguas saxônicas). Mas é isso aí, tem que estudar mesmo, se quiser aprender! BJS

    • Ana 06/04/2016 às 01:05

      Eu nem acho alemao uma lingua bizarra igual a fama. Tem mta coisa latina tb… e só de ser nosso alfabeto! Imagina árabe, chines, japones, isso sim é “estranho”. haha bjo

  4. Ana Luiza 05/04/2016 às 17:14

    Ana, vc aprendeu alemão da mesma forma que todo mundo consegue aprender as coisas: estudando e sendo paciente rsrs
    Acho que muitas pessoas acreditam que vão aprender uma língua de um dia para o outro ou vão descobrir um método incrível para obter fluência em um curtíssimo espaço de tempo, e não é assim né?

    Sou franqueada de uma agência de intercâmbio aqui na minha cidade (STB – Blumenau). O Eurocentres ainda tem centro em Berlim e mando muitos estudantes pra lá. Minha cidade é de origem alemã, o alemão ainda é ensinado em muitas escolas (principalmente públicas) e é bastante falado ainda, inclusive. Muitas empresas também tem o alemão como uma língua requerida. A empresa do meu pai importa esquadrias da Alemanha (da empresa Veka), então o alemão lá também é um diferencial.
    Eu não estudo alemão de boba que eu sou, mas te admiro pelo foco e determinação pra aprender uma língua tão difícil e diferente da nossa!!

    • Ana 06/04/2016 às 01:12

      Oi Ana, sim, eu sabia – o eurocentres de colonia fechou pouco depois q fui! E fiz la pq na epoca procurei o stb mesmo! Eu n conheço o sul do Brasil, acredita? Tenho curiosidade por causa desse aspecto tb, toda essa influencia alema ;)) bjo

  5. Lissie 05/04/2016 às 17:20

    Eu gosto de aulas em grupo para conhecer pessoas mas é verdade que é muito lento Emoticon frown Eu aprendo rapido (ou costumo me esforçar mais) e ai tenho que ficar “carregando” com a preguiça dos outros Emoticon frown no meu pais, a pesar de que as aulas de linguas sejam caras os alunos adultos chegan sempre tarde, nunca estudam, etc. As vezes aprendo melhor estudando sozinha em casa com a ajuda dos livros rs Mais esse metodo não serve para melhorar o ouvido. O que ja percebi é que numa viagem de um mes você não melhora nada na lingua se você ja não esta num nível avançado, principiante vai ficar dizendo “olá” e “obrigado” e mais nada rs Vai voltar para casa na mesma. Outra coisa muito interessante é que os nativos do pais em questão pelo geral não gostam de falar com uma pessoa que duvida muito para falar na lingua deles, temos de ser corajosos e falar rapido sem pensar muito ainda que cometamos erros, eles aceitam os erros mas não as duvidas e os silêncios de medo rs

    • Ana 06/04/2016 às 01:16

      Lissie, same here. Eu faço uma aulinha em grupo de italiano atualmente pelas pessoas. Acho legal o aspecto social da coisa, haha. Mas tem hora q me dá vontade de dormir na aula. APrendo mesmo com minha aula particular via skype e, principalmente, estudando sozinha. Qto mais vc que eh hiperpoliglota, deve ser mto monótono mesmo. Isso da viagem eh verdade. Lembro q aprendi mto pouco no meu mini intercambio, pq nao convivia com alemaes por fora (só com a “familia”), e ficava fazendo turismo o dia todo, nao queria ir pra casa e estudar conteúdo da aula. Aprendi sim no intercambio na universidade, q só ficava com alemaes. Em, língua, o medo de errar é o primeiro passo pro fracasso , mas tem hora que a gente trava mesmo. Ser perfeccionista com lingua é tudo de ruim porque atrasa o processo, ne? Bjo

  6. William 15/07/2016 às 11:57

    Oi Ana! Conversei contigo por email há uns tempos, penso em realizar residência aí e vc me passou umas dicas mt boas, hehe!
    Gostei do texto, bastante informativo. Só ficou faltando o “A forma como estudei alemão foi bem diferente de como estudo línguas hoje (tema para outro post).” Espero que esse post surja o mais rápido possível!

    Danke sehr! 🙂

    • Ana 17/07/2016 às 13:32

      Oi William, qualquer hora faço sim! Abraç±aO!!

  7. Ana Carolina 01/08/2016 às 15:16

    Oi Ana! Sou nova no seu blog, mas amei o que li até agora, principalmente este post. De fato, pra aprender a língua só estudando mesmo. Parabéns pelo conteúdo!
    Vi um monte de semelhanças comigo pelo blog: além de também ser Ana, moro em BH, estudo na cultura alemã e já tive problemas com queda de cabelo, haha.
    Mas além de parabenizar, vim aqui pra pedir um dica: to tentando um curso de alemão em universidades da Alemanha, e minhas duas opções são Köln e Freiburg. Você tem uma opinião sobre qual das duas cidades seria a melhor pra estudar/aprender alemão? Ou você acha que isso não tem nada a ver? hehe
    Abraço! 🙂

    • Ana 02/08/2016 às 01:34

      Oi Ana, que bom que se identificou! 🙂
      Por coincidencia ja estudei alemao nas duas, pra lingua em si da no mesmo, oq influencia mais é oq vc estará fazendo fora da sala de aula. É mais opção pela cidade do que pelo curso. COlonia é gigante, uma metropole. Freiburg é pequena, cidade bem universitaria. Bjs!