Eu não sou nenhuma rata das artes, mas uma coisa é fato: quando eu começo a ler sobre as coisas fico com muito mais vontade de vê-las e revê-las. Para quem está de viagem programada pra Parrí com a tia e odeia museu, vou falar um pouquinho das minhas obras favoritas do Louvre, quem sabe não injeta um ânimo (e vocês não se lembram de mim ao vê-las?). Tem um quinquilhão de museus em Paris e o post em princípio era para o Musée D’Orsay também, mas estava ficando mega enorme, então deixei este pra depois. O critério aqui não é ser mais ou menos famoso, são simplesmente as que eu mais gosto. 🙂
1) Le Jeune Martyre (a jovem Mártir) Paul Delaroche, 1856
Esse é o meu quadro favorito de todos, todos! Eu me apaixonei por ele da primeira vez que vi, sem nunca ter visto ou ouvido falar (apesar de ser razoavelmente famoso). Ele representa uma jovem cristã, provavelmente morta na época do imperador romano Diocleciano. Ser cristão em Roma era igual ser terrorista hoje em dia. Bom, por algum motivo, esse quadro me transmitiu uma paz enorme. Como poderia uma menina morta de mãos amarradas na água transmitir paz? Para mim também é um mistério, e gosto de ficar admirando este quadro e pensando, pensando. E o melhor, ele não é concorrido, então dá para ficar pertinho, sozinha, olhando igual uma idiota. Infelizmente, a iluminação na sala do Louvre não é das maiores, então fica difícil de ver algumas coisas no fundo (foto à esquerda), que a gente vê em fotos do quadro (foto à direita). Da primeira vez, achei que a sombra ao fundo era possivelmente de seu algoz sobre um cavalo, mas na verdade é um casal em desespero, que talvez representem os pais da jovem.
2) Victoire de Samothrace (Vitória de Samotrácia), ~ 220 a 190 a.C.
Eu adoro essa estátua. Quase morri ao ver que ela está em reforma durante todo o inverno, snif. Bom, pra começar, acho que ela combina muito com o lugar no qual ela está, bem no topo da escadaria Daru. Ela é muito antiga, de algumas centenas de anos antes de Cristo, do período helenístico, e foi encontrada no século XIX na ilha grega de Samotrácia. Estava despedaçada, sem cabeça e sem braços e foi então reconstruída para ficar deste jeito. Ela foi feita provavelmente para comemorar a vitória em uma batalha naval, já que um navio faz parte da estátua, e a deusa seria sua proa. É a Nice/Nike/Νίκη, deusa grega que representa a vitória e que inclusive inspirou o nome da marca Nike ( sou daquelas que adiciona futilidades só pra ter a ver com o blog kkkk).
3) La Mort de Sardanapale (A morte de Sardanapalo) Eugène Delacroix, 1827
Tá, para vocês não me acharem tétrica já digo: esse não transmite paz nenhuma! Da primeira vez que vi, esse quadro me chamou atenção justamente pelo contrário, achei perturbador, caótico. Mas também, imaginei que se tratava de algo diferente do que é na realidade. Este quadro se baseia no conto grego de Sardanapalo (o último rei da Assíria) e representa o contexto de uma provável batalha contra o irmão Šamaš-šuma-ukin. Ao ver que os invasores chegavam e ele perderia a batalha, ele ordenou que tudo o que tinha fosse destruído, suas escravas (e até cavalos) mortos, para que nada ficasse para o inimigo. Ele está deitado em sua cama enquanto tudo é destruído, e ele se matará logo depois, em uma pira junto com pertences valiosos.
4) Code de Hammurabi (Código de Hamurabi), ~1700 a.c
As partes que eu menos gosto do Louvre são aquelas a que chamo carinhosamente de “alas das pedrinhas”, hahaha! Delas fazem parte as “antiquidades orientais” e, assim, apesar de serem coisas antiquíssimas, eu não consigo me animar em ver pedacinhos de pedra, cumbuquinhas, utensílios domésticos de outrora. Me julguem! Mas lá na sessão da Babilônia tem algo que acho muito interessante também, o Código de Hamurabi. Acredita-se que foi escrito pelo rei Hammurabi, da Babilônia. Trata-se de um código de leis gravadas em pedra, antiquíssimo, da antiga Mesopotâmia. Para a galera do Direito deve ser mais legal ainda! São mais de 200 leis escritas nessa pedra, e elas já seguiam a lei de talião, ou seja, “olho por olho, dente por dente”. Ele foi escrito em acádio, que era a língua deste local naquela época! Imagina a trabalheira que não foi traduzir isso… 😉
5) Le Sacre de Napoléon (A coroação de Napoleão) Jacques-Louis David, 1807
Esse quadro é um espetáculo, gigante e lindo. Também pudera, ele foi encomendado pelo próprio Napoleão ao seu pintor oficial. Foi feito para representar a coroação de Napoleão e sua mulher Josefina, ocorrida em 1804 na Catedral de Notre-Dame. Na foto, é ele mesmo a figura mais importante, colocando a coroa em Josefina, enquanto todos os outros, inclusive o papa, só observam. Quer saber, adoro essas imagens tipo Sgt Peppers, que cada pessoa representada tem um significado! As dessa pintura você pode ler quem são aqui! Mas o que é interessante mesmo ao se ver esse quadro ao vivo, é tentar perceber um detalhe interessante: o pintor originalmente tinha feito a imagem com Napoleão colocando a coroa em sua própria cabeça, mas depois desistiu e “apagou” pintando outras coisas por cima. Mas com algum esforço dá pra ver a sombra de onde estavam a coroa e a própria cabeça de Napoleão antes de ser modificado (fica logo atrás da cabeça dele).
6) Les deux sœurs (As duas irmãs) Théodore Chassériau, 1843
A história do quadro não é tão especial, são as duas irmãs do pintor, Aline & Adèle. Este é um quadro sobre o qual achei muito pouca informação, o que me faz pensar no porquê de ele estar no Louvre e ainda em um lugar relativamente bem localizado (tipo do quadro que você sempre vai ver), mas percebi que ele tem uma importância artisticamente falando, de transição de estilo, não sei. Quem souber me explica! Gosto muito dele por um motivo 100% pessoal. Quando fui à Paris em 2008 com minha (outra) irmã, ela fazia questão de ver quadro por quadro (12 horas no Louvre!). Ao vermos que o nome deste era “As duas irmãs“, tiramos nós duas uma foto refazendo a pose à frente dele. Não tem como eu ver esse quadro e não lembrar disso. 🙂
7) La Liberté guidant le peuple (A liberdade guiando o povo) Eugène Delacroix, 1830
Bom, essa eu adoro ver ao vivo porque é figurinha carimbada de livro de história. Basta ter ido à escola para já ter visto essa imagem (ainda que você não se lembre, haha). Foi feita para comemorar a Revolução de Julho de 1830, aquela que derrubou o Carlos X. A mulher, personagem principal do quadro, representa a liberdade – e está carregando a bandeira da Revolução (hoje, também da França) numa mão e um mosquete na outra. Isso é que é mulher alfa, o resto é resto! 😛 E lá no canto superior direito você vê a Notre-Dame ! Essa pintura ainda serviu de inpiração para a Estátua da Liberdade em NY (que, como vocês sabem, foi presente dos franceses).
8) Venus de Milo, final do século II a.c
A Vênus de Milo é uma estátua grega que reina absoluta na sala onde está, dá até dó das outras!! Na verdade eu ficava me perguntando o que a tornou tão mais famosa, já que na própria sala tem estátuas friamente mais bonitas, como por exemplo a da Hermafrodita Dormindo (linda). Mas o que é legal nela é a história/mistério da sua descoberta. E é tão famosa, tão parafraseada e parodiada e reproduzida que ninguém resiste a ficar admirando. Ela teria sido encontrada por um camponês na ilha de Milo, na Grécia. Pessoal fala que ela está dando um sorrisinho, mas não consigo ver, sinceramente. Houve muita polêmica envolvendo sua criação, mas o próprio Louvre a reconhece como obra helenística. Observar: a posição do corpo, curvado e apoiado na perna direita, é clássica! Por causa dos furinhos, sabe-se que ela usava brinco e/ou colares de metal, mas estes nunca foram encontrados. Mas o mais interessante foi o bafafá envolvendo seus braços: há quem diga que, quando ela foi encontrada, estavam lá também braços soltos, inclusive um deles segurando uma maçã (olhem o desenho à direita). Alguns ainda falando que eles estariam até presos, mas os soldados franceses os teriam quebrado ao tentar levar a estátua à força. Já o museu e muitos historiadores não acreditam na versão e dizem que os braços originais nunca foram encontrados.
9) Ritratto di vecchio con nipote (Um velho e seu neto, aka O Ancião e a Criança) Domenico Ghirlandaio, 1490
Quando eu falei para minha irmã que gostava desse quadro, ouvi um sonoro ECA. hahaha Mas é verdade, concordo que o que mais chama atenção nele à primeira vista são as verrugonas no nariz do velho. Na verdade não se sabe ao certo se eles representam avô e neto, mas acha-se que sim. Eu gosto muito desse contraste, do senhor com o rosto meio deformado e da criança de rosto angelical, num momento super “getting along”, e para a criança não importa a aparência do senhor. Acho um retrato de ternura pura. Curiosidade: a doença do homem seria uma forma de rinofima, uma condição granulomatosa decorrente de acne rosácea sobre a qual eu, sinceramente, não sei falar mais nada! Enfim, eu gosto desse quadro, gosto é gosto! kkk
10) La Vierge aux rochers (Virgem das Rochas) Leonardo da Vinci, ~1483
Leonardo da Vinci foi um dos artistas mais fascinantes da história, dado seu vasto conhecimento em áreas tão distintas. Eu o acho até mais interessante que suas obras, e até prefiro ler um livro sobre ele do que sobre a Monalisa*, por exemplo. Seu trabalho que eu mais gosto no Louvre é a Virgem (Madona) das Rochas. Dizem que ele era lerdaaaaço e enroladaaaaço, e sempre arrumava briga por isso com seus “clientes”. Por isso, da Vinci completou menos de 20 pinturas em sua vida, e essa ele pintou duas vezes. A primeira, esta do Louvre, foi encomendada por franciscanos (da Confraria da Imaculada Conceição) para o altar de sua capela em Milão. A outra, quase igual, pouco menor e 21 anos mais nova está na National Gallery de Londres. A imagem representa a jornada (não-bíblica, mas sim uma famosa lenda medieval) da família pelo Egito. Eles estariam fungindo do Rei Herodes, que mataria o pequeno Jesus, fato que foi “visto” por José em um sonho. A virgem está olhando para o João Batista, enquanto este reza para e é abençoado por Jesus. Na versão do Louvre (acima), o anjo (Gabriel, segundo o Louvre, e Uriel segundo a lenda) aponta para João Batista, na de Londres não. Interpretações para isso há várias. Sério, quase inventei uma para contar aqui, porque dá até preguiça. hahaha Até Dan Brown viajou, dando significado fálico às rochas, citando reversão de papéis, o anjo “querendo” decapitar alguém com seu dedo, etc, etc. Mas o que se acha que realmente ocorreu, é que da Vinci achou que estavam oferecendo pouco dinheiro pelo seu serviço, e vendeu a primeira para outra pessoa. Aí os franciscanos foram e encomendaram outra (a de Londres), que demorou muito tempo para ficar pronta (décadas), aí ele terminou a segunda correndo de qualquer jeito. FIM!
*P.S Só não coloquei “a Mona” no TOP 10 porque não acho tão legal ver ao “vivo” uma pintura que está a uns 10 metros de distância, numa cumbuca blindada, com 4 seguranças ao redor e 5 fileiras de turistas se espremendo para vê-la. Isso porque é pequena. Acho que tira toda a experiência a a vantagem de poder admirar uma pintura e seus detalhes.
Bom, é isso!! Quais são os seus favoritos?!
Beijinhos!