26
agosto
2017

Diferenças culturais: filas na Alemanha

Postado por Ana em Alemanha

Olha, nosso país tem seus problemas, mas num aspecto ele é altamente desenvolvido: filas! Claro que sem-educação e espertinhos existem vez ou outra, mas acho que o Brasil está neste aspecto anos-luz de outros países, inclusive da Alemanha. Há sociedades em que fazer fila é culturalmente muito mal aprendido: quem não se lembra que nas Olimpíadas de 2008 o governo da China estava ensinando os cidadãos a respeitarem fila? Hahahaha Pois pasmem: a Alemanha é um país ruinzinho de fila. Assim, não é nada que prejudique o dia-a-dia – o conceito básico obviamente existe, a maioria as respeita: mas são nas nuances que os alemães se comportam diferente de nós. Querem exemplos?

O terror das filas laterais

Existem algumas lojas em que tem tipo um caixa no balcão sem delimitação nenhuma clara de onde a fila começa, se é fila única, separada, etc. Daí começa a chegar gente de todos os lados, alemães espertinhos sem fim. Ou mesmo em locais onde as filas são mais bagunçadas por natureza: tipo Mc Donald’s, Burger King .. é muito comum alguém tentar passar na frente. A Alemanha é lotaaaaada de fura-filas!

Não há caixa preferencial

Se existe, é exceção! A regra é não ter caixa preferencial!. Isso eu só fui entender no Natal de 2014, quando fui aos Correios e a fila dava volta no quarteirão. Observei bem e 95% da fila tinha a cabeça branquinha e entendi então que fila preferencial não fazia sentido, né? É também comum ver pessoas com neném de colo, grávidas e idosos enfrentando a fila normalmente sem ninguém dar preferência. Eles não vêm isso como desaforo dos demais e os demais não percebem nada de anormal nisso. Confesso que isso me provoca uma coceira interna, maaaaaas atualmente eu faço igual eles. Uma vez em 2010, em Kiel, dei o lugar ao homem com um neném de colo e tipo ele não entendeu nada e eu tive que explicar o porquê e pude ver claramente que ele simplesmente achou aquilo mega esquisito. Atualmente só dou preferência se eu vir que a pessoa está em apuros mesmo e irá gostar do meu gesto.

Só um ítem

É muito comum alguém que só está com um ítem (ou dois) pedir para passar na sua frente no caixa. Eu achava a maior cara-de-pau, mas nunca neguei. Por outro lado é bem comum te oferecerem para passar na frente se você também só estiver com uma coisa. Eu não costumo aceitar a oferta não, mas meus amigos alemães sempre aceitam – lembre-se: se algo aqui é oferecido, você pode aceitar!

A correria do caixa recém-aberto

Essa para mim era a mais absurda de todas. Eu ficava com o queixo NO CHÃO! Se tem só um caixa aberto com uma fila enorme e o do lado abre, o que COSTUMA acontecer no Brasil? As pessoas, pelo menos as razoáveis, tentam se distribuir mais ou menos na ordem em que estavam, rumo ao caixa novo. Pois aqui o que sempre fez meu queixo cair no chão é que quando um caixa novo abre é cada um por si, quem chegar primeiro leva, hahahahhahaha! Sério, eu tive por muito tempo uma resistência enorme. Atualmente estou no meio do caminho: eu meio que dou uma leve “vantagem” para quem está na minha frente, mas se ele bobear já vou em disparada pro caixa novo.

Os separadores de compras

Sabem aqueles separadores em formato de toblerone que têm nos caixas para separar as compras dos clientes?

No Brasil é meio facultativo, pois nossa sociedade contextual super é capaz de entender que se há uma distância de 50 cm entre blocos de compras, elas pertencerão ao próximo cliente. Sendo a Alemanha uma sociedade contratual, é de se esperar que isso não funcione. Aqui as compras devem ser separadas com o tal toblerone e há inclusive uma discussão : por qual dos dois você é responsável? Eu acho que pelo depois das nossas compras e vocês? 🙂 Quase uma questão filosófica. Atualmente mudei de time e quando um freguês não coloca nenhum toblerone eu fico genuinamente o achando super sem educação, nesse quesito alemanizei mesmo! Mas lembro que recém-chegada eu gostava de testar essa “neurose” dos alemães e não colocava separador nenhum, para logo ver o alemão se coçando todo e tomando a iniciativa. Eu achava engraçado mesmo fazer esse teste. Sim, I was that bad! Outra coisa interessante é que se você colocar suas compras na esteira antes do da frente terminar, por mais que você ache que vai sobrar espaço, você tem chance de uns 12,45% de ser chamado a atenção. Meu marido por exemplo acha ruim e fala na lata pro outro: DEIXA EU TERMINAR, NÉ COMPADRE?! Eu, aliás, não canso de de surpreender como uma pessoa tão fofa e educada como ele fala tanta coisa na lata. A facilidade com quem ele diz NÃO! Típico de alemães isso… Um dia aprendo, hahaha!

Todas essas reflexões vieram nas minhas comprinhas de ontem – e mais ainda, estava reparando como mudei nesse aspecto. O que eu realmente não quero me tornar é uma fura-fila! Mas com o resto tenho até que tomar cuidado para não esquecer das raízes e não pagar de grosseirona nos meus retornos ao Brasil!

Beijos!

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  1. L. 27/08/2017 às 01:13

    Olá, Ana!

    Ótimas observações!

    Acho irritante a correria do caixa recém-aberto! Na minha lógica (deve ser uma idéia avant-garde demais), o primeiro da fila do caixa recém-aberto deveria ser aquele que já está mais à frente na fila “antiga”, e não a última pessoa. O povo perde a compostura! Se bobear, vale até dedo no olho.

    Sem contar que os mais sensíveis não podem esquecer o Isordil antes de enfrentar a velocidade alucinante da compra. O comum é a pessoa sair mais perdida do que cego em tiroteio, tamanha a pressa com que os produtos são escaneados. Por conta disso, já encontrei vários artigos órfãos no caixa da DM. Só falta embutir uma catapulta na boca do caixa e mandar o cliente para o espaço sideral. Trata-se da realidade invertida dos supermercados brasileiros, com atendentes conversando cazamigas e acomodando as compras para você em zilhões de sacolas, tudo em slow motion.

    Acho que o problema principal aqui é a pressa (na versão diplomática: a onipresente sede de eficiência), né? Invariavelmente, a pessoa atrás de mim está quase cafungando o meu cangote, doida para aboletar as compras na esteira. Entendo o seu marido.

    Acho que, com o passar dos anos, aprendi a lidar melhor com as filas. Antes catava o dinheiro correndo, como se a carteira estivesse pegando fogo. Pela minha sanidade mental, faz algum tempo que me disciplinei a contar, com toda a calma, o valor a pagar, mesmo que seja em moedas. Confiro a conta e o troco e, se for o caso, resolvo logo o que estiver errado. Ligo cada vez menos para cara feia, reclamações e rolling eyes.

    Abraço,
    L.

    • Ana 27/08/2017 às 10:29

      Oi L., comentário sensacional! Vc descreveu melhor que eu : “perdem a compostura” – é isso mesmo: irmao desconhece irmao, pai desconhece filho, kkkkkkk!! Morri de rir da catapulta! Lembro que me estressava mto no começo mas atualmente eu to de boas, nao passo apuros até pq SEMPRE pago no cartao. Lembro que vivia com a carteira pesando 10kg só de tanto de moedas pq eu nao queria gastar tempo procurando. Mas realmente é rapido demais. Assim, no Rewe que é o mais perto de casa eu ainda acho de boas empacotar. Mas no Aldi eu sempre subestimo a velocidade, tipo eu juro que vou ser mais rapida que a caixa e nunca sou, hehehe

  2. L. 27/08/2017 às 12:25

    Meu comentário aí em cima ficou enorme, né? Me empolguei, foi mal. Esse tema rende!
    Estou ficando craque em operação tartaruga. Faço questão de pedir meus “corações de fidelidade”, inclusive. Este ano, já garanti uma toalha e um bicho de pelúcia (que tem um olhar muito estranho e deve vagar com uma faca pela casa enquanto durmo), entre outros brindes. Estou bem focada nisso.
    Um tempo atrás, vi numa reportagem (na ZDF, acho) sobre o supermercado do futuro que, quanto mais barato o supermercado, mais longa a esteira para pôr as compras e menor a área para empacotá-las. Faz sentido. Os atendentes do Aldi sentam, praticamente, numa cápsula. Os separadores também têm a função de agilizar a compra. O que importa é o cliente vazar rápido.
    Sobre o Brasil: na minha cidade, tem gente catando velhinho na rua para passar na frente nas filas do banco, do cinema etc. Se morasse lá, abriria uma agência de aluguel de idosos.
    Abraço,
    L.

    • Ana 27/08/2017 às 15:31

      que nada, amo comentarios assim! 😉
      verdade, “personal véio tabajara”, conheço a cena, comuníssima!! hahaha

  3. INGRED 28/08/2017 às 16:52

    Oi, Ana!Que Saudades de ler seu blog! Minha vida está uma correria louca…
    Amei o post, e é tão engraçado esse negócio de filas; me estresso aos montes por aqui, pq tem muita gente mal educada, sabe? Não respeita os idosos, e as gestantes, fico irada! hahaha
    Filas é um tema que rende bastante em todos os países, e tem de observar muito para não pagar de mal educado hahaha.

    • Ana 01/09/2017 às 16:30

      Oi Ingred, welcome back!! :))))
      verdade isso , se tem uma coisa que me fere profundamente é o desrespeito com idosos.
      além de ser ridiculo desrespeitar o que seremos (com sorte) um dia….