Vocês sabem a diferença entre dor de cabeça “normal” e enxaqueca? Basicamente, esta última dá uma dor mais incapacitante – você não consegue continuar fazendo as coisas, tipo trabalhar. A dor pode durar de algumas horas até alguns dias. Geralmente ela é mais localizada, por exemplo, só em metade da cabeça. E, por fim, é bem mais acompanhada de sintomas como fotofobia (a luz incomoda horrores), fonofobia (qualquer barulho incomoda horrores) e enjôos/vômitos.

Outra coisa que é mais típica da enxaqueca é a chamada “aura“, apesar de ser mais comum não tê-la do que ter! Aura é tipo um sintoma super esquisito que precede a dor: pode ser um cheiro estranho que você sente. Pode ser alguma alteração abrupta no seu humor. Pode ser algo esquisito na visão: vagalumes brilhantes que aparecem, ou até perda temporária da visão. Outra coisa típica da enxaqueca é o gatilho – aquilo que te provoca a crise. Nem sempre dá pra identificar, mas alguns gatilhos comuns são: vinho, queijo, exercício físico, estresse. E por fim – sabe de outra coisa super comum nesses casos? História familiar – outras pessoas da família também costumam ter. E … sexo feminino. Aliás, pílula anticoncepcional costuma aumentar a frequência em quem já tem. Uma coisa clássica da enxaqueca é que os remédios para dor de cabeça comum (ex: paracetamol) não costumam funcionar. Usam-se outros, como naproxeno, ibuprofeno, etc, que aliás têm várias contra-indicações, então não use sem indicação médica. E, para você ter chance de evitar/cortar a dor, você deve tomar esses remédios de preferência durante a aura (se você tiver e se perceber), antes de começar a doer. Para quem sofre com perda da qualidade de vida devido a episódios muito frequentes, existem tratamentos profiláticos a serem prescritos pelo neurologista. E, se você conhece os seus gatilhos, evite-os se possível.

Enxaqueca & eu
Agora minha experiência pessoal com essa dita-cuja – eu tenho uma história familiar forte de enxaqueca e me considero até bem sortuda pela frequência que apareceu em minha vida. Os episódios que tive conto nos dedos de uma mão. Lembro em alguns casos isolados em minha infância, como por exemplo uma vez após apertar o aparelho no dentista ou outra vez após ser assaltada. Começava com aura – eu só sabia que havia algo esquisito com minha visão mas não sabia identificar o que era. Depois vinha uma dor horrível que me jogava à cama, no escuro, levemente nauseada. Eu observava que minha irmã tinha enxaquecas bem mais frequentes, desencadeadas por exercício físico extenuante. Ela teve, por exemplo, que parar de fazer capoeira, pois toda santa vez era a mesma coisa – e a dela era pior, pois ela vomitava muito.
Achei que ia ficar cega

Eu só não imaginava que as coisas iam mudar um pouco por agora. Assim, eu sempre fui meio sedentária, mas tenho me exercitado mais no último ano. Tenho corrido com frequência – e corrida, para mim, é um exercício extenuante. Eu fico BEM cansada e chego em casa vermelha, um caco. Daí, um belo dia ano passado, cerca de 1 hora após correr, assistia televisão e comecei a ver que havia algo estranho com a legenda. “Algo estranho com a visão que você não sabe explicar o que é” costuma ser problema de campo visual. Foi piorando, piorando e resolvi testar meu campo: o campo visual inferior do olho esquerdo SUMIU completamente. Imaginem o meu pânico nessa hora. Meu marido achou que eu estava dando um piti hahahahhaa e falou: ôooo, calma, vem aqui. E eu: PQP meu filho, sou oftalmologista e se estou te falando que meu campo visual inferior do olho esquerdo sumiu, é porque SUMIUUU aaaaahhhh. E mesmo assim ele achava que era piti meu, porque eu tenho a reputação aqui em casa de ser hipocondríaca e dramática. #guilty kkkk Foi nesse nível – pensei no pior. Mas daí me veio um segundo de consciência e pá, lembrei na hora de enxaqueca e me recompus, esperando ansiosamente pela chegada da dor de cabeça. A perda visual não durou mais de dez minutos (como deve ser nesses casos). Daí depois chegou a dor de cabeça, bem localizada – a melhor dor de cabeça que já senti na vida, pois confirmou que era “só uma enxaqueca”. Daí semana passada aconteceu isso de novo após uma corrida. Acho que minha frequência vai ser uma enxaqueca a cada 40 corridas, algo assim. Não quero parar de correr, mas isso meio que mina meu sonho da meia-maratona, por exemplo – a não ser que eu progrida a passos de tartaruga anêmica. E outra, dependendo do episódio pode acontecer perda permanente no campo visual, de alguns pontos. Alguns colegas me tranquilizaram em relação a isso, mas, bem, está nos livros. Dá um medinho de arriscar…
Não custa lembrar: se tiver sintomas de enxaqueca, principalmente se forem novos ou mudarem de característica, um médico deverá ser consultado, inclusive para excluir outras condições mais graves que podem causar sintomas parecidos.
Desde que vinho não passe a ser um gatilho, eu não reclamo muito, prometo. hahhahaha E vocês, têm experiências com a dita-cuja?
P.s: coincidentemente após escrever o post fui ler as news na Spiegel e vi uma reportagem (vídeo) interessante sobre enxaqueca na Alemanha, o problema grande que ela representa e sobre o tratamento com Botox. Pra quem entende alemão, está aqui o link.
Beijos !