Como comentei, meu marido tirou 2 meses de licença paternidade (sim, aqui tem isso – quem quiser entender mais, só ler o post sobre isso). Aproveitamos então para viajar com nossa filha durante a maior parte deste tempo. Iniciamos as viagens com o Brasil-sil-sil, para ela conhecer os primos, tios, minhas amigas… Quem vê assim acha que a decisão foi fácil. Pelo menos da minha parte, não foi – senti vários medos, cheguei a bater o pé que não queria ir. Medo principalmente da viagem de avião – tão longa e com conexão, com um bebê que definitivamente não é um angel baby, não dorme em bercinho nem com barulho nem em carrinho e nem “do nada” no colo… E sendo que tenho pânico de avião e que ainda ia ter que viajar “de cara limpa” (tanto pela amamentação como pela energia necessária para cuidar do bebê), hehehe! Também tinha medo de ela ficar doentinha por lá, já que eu mesma peguei zigziras nas últimas 3-4 vezes que fui. Ainda a questão do sarampo e o medo de circular em aeroportos, avião, etc. Enfim, mil medos!
Tem uma pessoa que adoro que sigo no instagram, especialista em disciplina positiva, toda zen e cheia de jeito com bebê. Um dia ela fez um textão nos stories sobre a superação de fazer um vôo BH-Rio (40 minutos) pela primeira vez com o bebê de 3-4 meses dela. Nesse dia lembro que pensei: “FERROUUUUUUUUUU!!! Se ela que é toda zen passou esse perrengue num vôo de 40 minutos, como vai ser comigo?” Eu me informei, preparei, vi mil vídeos de dicas para voar de avião. Mas me desanimava porque nenhum desses bebês lembrava nem de perto a minha. Eles dormiam em um bebê conforto enquanto o mundo caía no avião. Gente?! Essas dicas não serviam para mim. Eu estava tão insegura que levei fórmula na ida (sendo que ela nunca pegou mamadeira, rs) de medo do meu leite não ser ejetado pelo pânico, kkkkk! #tãoeu
Mas graças a Deus tenho ao meu lado o ser mais otimista do mundo e ele me convenceu a irmos ao Brasil. Era importante demais e nenhum medo é maior do que as memórias deste momento com a família. Fora que conseguir ir para ficar 3 semanas é uma oportunidade que temos que aproveitar. E ele tinha razão. Não importa o perrengue no avião (a não ser que caia hehehehe) SEMPRE vai valer a pena.
A odisséia dos vôos
Primeiro, em relação à viagem de avião com bebê de 4-5 meses. Pra começar, ao contrário de vídeos que vi – A MINHA bebê de 4 meses não só “mama e dorme”. Ela tem mil necessidades além disso e fica muito entediada muito fácil, não fica sentadinha num bebê conforto com cara de plasta olhando pra gente, jamais (leia em francês: jaméee). Claro que a gente (eu! marido nem aí) fica com medo do perrengue do bebê esgoelar a viagem toda e você nem tem pra onde correr. Mas é só respirar fundo e pensar que AINDA que seja este o caso, isso não deve ser maior do que as alegrias da viagem. Ainda que ocorra pior do cenário, serão horas que depois você esquece, e se deixar de viajar por causa disso vai se arrepender depois COM CERTEZA. Isso sem entrar no tema que bebê chora mesmo e todo mundo já foi bebê um dia. Ninguém é obrigado a curtir viajar do lado de bebê, claro (eu detesto), mas ninguém pode falar nada. Se alguém falasse algo pra mim ia ouvir, ô se ia.
MAAAAAAAAS …. eu cometi sim um ENORME erro ao marcar os vôos. Escolhi a TAP! Justamente pela conveniência de o grande vôo terminar em BH, pois o que sempre me deixou exausta foi a conexão em SP no fim da viagem. Contudo, mais que um fato pontual, ficou muito claro para mim que a TAP não tem qualquer consideração com quem viaja em família. Fomos para a casa dos sogros perto de Frankfurt para pegar o vôo das 6 da matina no aeroporto. Eis que às 02:30 da manhã eu vejo um e-mail confirmando o Check In. Aí beleza, achei que tinham reenviado. Mas quando fui vendo os detalhes do vôo vi que não tinha nada a ver com o nosso. Era um vôo estranho de 7 horas de conexão em Lisboa e indo pra Campinas etc. Levantei no pulo e fui ver o que tinha acontecido. Com muito custo consegui falar na TAP e entendi que tinham cancelado o vôo. Gente, custa escrever isso, avisar de alguma forma na mensagem “ATENÇÃO!!!! VÔO CANCELADO/ALTERADO”? Poderia facilmente não ter percebido e ter ido de madrugada ao aeroporto à toa.
Como diria o Ross:
eles deviam colocar em letras garrafais
Foi uma zona, família incluindo bebê sentada à mesa às 3 da manhã, resolvendo a situação. Remarcamos pro mesmo vôo no dia seguinte, pois o vôo alternativo oferecido era impraticável pra gente. Daí surgiu outro problema, eu disse pro homem que tinha reservado lugares “de bebê” na aeronave e que gostaria de tê-los de volta mas os novos números da poltrona eram outros. Pois o luso me GARANTIU que eram sim lugares de bebê. E eu: “tem certeza? É outro modelo de aeronave então né?”. E ele “sim senhora“. Ora pois, ele queria era se livrar de mim às 3 da manhã. No dia seguinte, não convencida, liguei de novo e a nova atendente me deu a real: “não senhora, são lugares no fundão mesmo. E não tem mais lugar de bebê”. Fiquei chateada demais – mas a solução foi comprar um upgrade pra business, que estava relativamente barato (e nesse caso de atraso grande pelas regras de UE temos direito a 600 euros por cabeça). Pois veio a próxima noite e vamos lá novamente. De novo eu em claro de preocupação, mas conferi e-mail e nada suspeito, ótimo! Tirei minha bebê dormindo do berço às 2:30 da manhã (quem é mãe sabe o quanto isso nos dói, hehe), e a coloquei no carro (ela não curte, é um estresse) e lá fomos. Quando estávamos na fila do para entregar malas eis que chega um SMS misterioso com novas informações de vôo. “Not agaaaaaain“, pensei. Pois sim, AGAIN! Vôo cancelado. Lá fomos nós para aquela fila giga de remarcação – e aqui não tem isso de preferencial pra bebê não, viu? Escorreu uma lágrima. Após muito estresse acabamos aceitando um vôo horrível, passando por Paris e Guarulhos. Então o vôo longo seria de Air France – detalhe que ele nos colocou na econômica da Air France sendo que tínhamos pago o upgrade da TAP. Se não tivéssemos visto/queixado ficava por isso mesmo. Houve ainda uns percalços para resolver junto à Air France porque não estava no sistema deles. E voltamos mais uma vez para a casa dos sogros, para retornar ao aeroporto no fim do dia. A gente tava pior que bumerangue.
a filinha pra remarcar
A experiência em si a partir do momento que a viagem “de verdade” começou: achei TOO MUCH para minha bebê, pela personalidade dela. Graças a Deus ela dorme no canguru, foi assim que conseguimos fazer tudo, senão essa viagem nem seria possível. Ela é uma bebê MUITO curiosa e excitável, então o ambiente de aeroporto foi muito pra ela. Não me esquecerei nunca de quando passávamos pelo Free Shop do Charles de Gaule, aquela luz quase neon, e TUMTCHI TUMCHI TUMCHI e mil pessoas. Ela ficou tão elétrica que seguiu por essa área gritando fininho: AAAAAAAH (nem tava chorando, mas de excitação mesmo). Colocamos ela no canguru para acalmar, porque tava demais. Agora a gente ri, mas foi tenso. Mas enfim, muito cansativo pro neném, vira um tira-e-põe de canguru, passa no Raio X, controle de passaporte, etc etc.
O seu primeiro vôo foi na Lufthansa pra Paris e foram uns doces, até brinquedinho ela ganhou. Foi uma hora só, ela tava acordada mas foi ok. Em relação ao vôo Paris-SP, ele em si foi ok. A fileira da business da Air France era de uma cadeira só, então a cadeira do marido estava atrás de mim. Ele se divertiu horrores, tomou champagne, viu filme, lucky bastard! 🙂 Eu “trabalhei” a noite toda, pois sabia que nessa circunstância ela só dormiria mamando/no meu peito. E tive que me esforçar para ela permanecer assim, a protegendo do barulho, luz, etc. Assim que a aeronave correu pra decolar, coloquei ela pra mamar e ela dormiu, eram 23:30. E por ali ficou a noite toda, mamando/dormindo. Até montaram um bercinho pra ela, mas tipo num lugar meio alto sem eu conseguir ver, com aquela barulheira de gente passando, que para ela dormir ali só nascendo de novo com uma personalidade totalmente diferente. E foi ali, na calada da noite, que dei a maior prova de amor que minha filha poderia receber: eu disse pro aeromoço que não ia jantar, quando ele me perguntou se eu tinha escolhido a refeição. Simplesmente não valeria a pena acordá-la com o risco de ela não dormir mais e eu ficar indo pra lá e pra cá, naquela exaustão que eu estava de quem não dormia há 3 dias. Fiquei com fome, vontade de ir ao banheiro e sede (não quis beber água pra não dar mais vontade, rs) a madrugada toda, mas ela também não deu um pio. Só de manhã mesmo ela acordou e tivemos um trabalhinho para entretê-la dentro do avião por uma hora. No vôo SP-BH ela estava mais cansada/chatinha mas foi um grande nada em relação ao resto da experiência. A vantagem dessas aventuras é justamente mudar a perspectiva sobre o que é difícil e o que não é. Reservei um transfer pra bebê no aeroporto porque taxi não tem cadeirinha né?
A TAP também avacalhou a volta
O vôo da volta foi em si muito pior. Quase antes de ir ao aeroporto fui entrar num taxi e torci meu pé muito feio. Achei que tinha rompido tendão (ouvi RIIIIIP) mas meu marido garantiu que não e que só distendeu. Então ok, mas fiquei mancando . Uma maravilha. Bom, fui fazer o check in online e vi que os assentos não eram aqueles da frente que eu tinha reservado, mas números maiores. Liguei na TAP e, claro, não souberam me informar o motivo. Deixei para fazer o check in no aeroporto e, assim, com um monte de desculpa de peidorreiro, a atendente disse que fomos relocados e estávamos no fundo e separados. E que ela poderia me oferecer UM lugar pra bebê mas separada do marido, já que ao meu lado estaria outra mulher com bebê. Isso foi obviamente uma mentira, já que ao meu lado estava uma família normal de adultos, para os quais a TAP VENDEU os lugares com mais espaço para as pernas e que o bebê se explodaaa. Tentei fazer upgrade de novo, mas fui informada que a TAP tinha a política de não fazer upgrade para menores de 2 anos. Quando disse que fizemos na ida, ela falou “ahmmmmm, tá cheio, não tem lugar”. Sim, terceira mentira! Ó o naipe da companhia aérea, amigos. Quando me sentei com a Lili, a situação foi pior do que eu tinha calculado. Do meu lado tinha uma mulher com cara de c* e vi que o assento era estreito demais para ela dormir mamando, já que as perninhas chegariam ou na metade do corredor ou na metade do assento da mulher com cara de c*. Entrei em pânico, meu Deus, como ela ia dormir? A grande sorte no azar é que o espaço ao lado do meu marido ficou vago, então troquei com ele e fiquei novamente a noite toda com ela dormindo no meu peito. Mas foi bem mais difícil porque o avião estava uma zona, estávamos perto dos banheiros e eu juro que nunca na minha vida vi tanta gente usando banheiro num avião. Era uma fila constante. Tava tão zoneado esse vôo que tinha um poodle passeando livremente sem o dono pelos corredores. Brinquei que a próxima etapa é ter um burro passeando pelos aviões da TAP.
Meu marido até descobriu que isso não é impossível, vejam essa reportagem:
TAP em um futuro próximo, hahahhaa
Entre Lisboa e Frankfurt passamos um aperto por 40 minutos para entretê-la – ela não gosta nem de sentar no colo mais, tem que levantar, ver coisas!. Mas depois, como tinha dormido meio mal, ela dormiu no meu colo até depois de pousarmos, então foi um vôo bem ok.
Enfim, o que me deixa mais chateada nessa história é que o vôo nesse caso é cancelado por motivos econômicos mesmo. Porque para eles compensou de alguma forma financeiramente. O tempo estava bom, aeronaves ok! Ninguém da companhia sabe falar o porquê de terem cancelado as duas vezes. Por isso que eles não costumam cancelar vôos longos à toa. Mas esse Frankfurt-Lisboa cancelam sem dó! Por isso é importante que CADA passageiro procure seus direitos, para parar de valer a pena para a companhia! Não tenho a ilusão que existam cias aéreas 100% boas ou ruins. Com certeza é possível ter uma boa experiência com a TAP e uma má com outra companhia. Mas ficou claro para mim que na TAP eles c*gam para famílias e a chance de passar perrengue voando com bebê é maior. Nosso próximo vôo será de Lufthansa passando por Guarulhos mesmo, agora que sabemos a facilidade com que a TAP cancela vôos curtos (no nosso caso, Frankfurt-Lisboa). Em relação à TAP, não vamos ficar só nos formulários, vamos entrar com advogado também, achamos um desrespeito enorme e ainda perdemos 2 dias de nossa viagem.
Boas memórias
Eu infelizmente usei essa viagem para resolver muita burocracia – fui 2x ao cartório, 4x ao banco, 2x ao PSIU da Praça Sete e 2x a uma contadora. Mas tirando isso, a viagem no Brasil valeu muito a pena. Nós três ficamos saudáveis o tempo todo, graças a Deus (adendo: sempre fazer seguro de saúde E viagem ao viajar com bebê – porque imagina só viajar com um bebê resfriadinho? Não rola!!! Fiz da Allianz ). Encontrei com muitas amigas (infelizmente não deu pra ver todas), passamos muito tempo com a família. As priminhas ficaram doidas com ela. Ainda que ela não vá se lembrar dessa viagem em si, nada paga ter essa memória (e fotos), da primeira viagem da Lili ao Brasil, com 4-5 meses. Até um pequeno mesversário fizemos, não dava pra deixar a oportunidade passar – e já até imprimi a foto do vovô com todos seus 5 netinhos para colar no álbum dela.
Ah, o interessante é que bebê novinho assim aparentemente não tem jet lag – ela meio que ignorou e seguiu tanto na ida quanto na volta a luz do sol mesmo. Isso foi uma surpresa para mim, mas adorei, claro.
Qual passaporte?
Pequena observação burocrática: Lili viajou com um “Kinderreisepass” que é mais barato/rápido de fazer que o normal. Custou 13 euros e ficou pronto na hora. Pro Brasil e maior parte do mundo ele serve, mas não pros EUA por exemplo. Ela ainda não tem a nacionalidade brasileira, e vou esperar uns anos para registrá-la. A partir do momento que seu filho tem a nacionalidade brasileira, os agentes da PF têm o DIREITO de pedir o passaporte brasileiro dele (caro, nem tem consulado na minha cidade e só dura 1 ano pra bebê). Sei que na maioria das vezes vai dar certo viajar só com o alemão, mas no site do consulado eles falam disso, que TEM que ter o brasileiro também. E eu JURO que o agente que peguei no aeroporto ia pedir o dela. Ele era mal-humorado e perguntou TRÊS vezes se ela não tinha nacionalidade brasileira, tava com sangue nozóio pra pedir o passaporte. JURO JURO!!! Portanto, pode dar rolo se não tiver, e imagina passar esse perrengue todo de viagem pra não entrar no final? Eu não arriscaria de jeito nenhum.
Ironicamente, vou parafrasear um grande poeta português para finalizar o post:
Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena. Quem quer passar além atlântico tem que passar além da dor. Deus ao Brasil o perigo e abismo deu, mas nele que espelhou o céu.
Beijos