Sabem aqueles dias em que a gente fica toda nostálgica, pensando no passado? Ou melhor: visualizando o passado com óculos cor-de-rosa? Porque é quase sempre assim né? A gente sonha com o futuro, recorda um passado maquiado e c*ga pra única coisa que é real, garantida e existente: o presente.
Acho que um dos exemplos mais gritantes da minha vida foi o caso do Livro Alp! Não sei se é da época de vocês, mas esse era um livro de português muito usado nas escolas nos anos 90. Ainda existe, aliás. Eu, apesar de gostar da língua portuguesa, simplesmente tinha pânico das aulas de português. Principalmente aquelas com o livro Alp. Não sei se era problema de didática das professoras, mas as páginas daquele livro me consumiam com um tédio mortal. Um tédio indescritível – eu odiava!
Daí passaram-se uns anos e eu tinha, sei lá, uns 20 anos. Estava eu lá em casa abarrotada de tarefas da faculdade e por algum motivo fui mexer no fundo de um armário e o encontrei: o Alp! E me deu uma saudade… eu folheei as páginas, reli os textos, cheirei as folhas (com poeira, né). Que saudades da escola, que saudades das aulas de português, que saudades do Alp!… e pera, saudades do Alp?!!!!!
Pois se vocês repararem bem, esse é um padrão que se repete a vida toda. Estamos constantemente desejando coisas/situações novas, as conseguindo e esquecendo daquele desejo propulsor.
Quando penso na minha vida: como quis entrar naquela faculdade, como quis entrar naquele hospital pra residência, como quis que meu SUPER improvável relacionamento a distância desse certo, como quis conseguir trabalhar aqui, como quis uma filha saudável. Houve mesmo um momento em que meu maior sonho era parar de fazer xixi na cama (fiz até os 6 anos, sofria muito com isso, até crista de galo eu comi pra parar hahaha). E mesmo tendo realizado isso tudo, há dias em que eu – como você – me surpreendo bastante insatisfeita. Nesses dias vêm as memórias da infância (sem lembrar das inúmeras imperfeições que ela teve), da faculdade (sem lembrar dos perrengues), da residência (sem lembrar dos plantões noturnos), da vida pré-bebê (sem lembrar das lágrimas de pânico de perder e do enorme desejo de ser mãe). E é isso.
Às vezes passamos por experiências difíceis e nos safamos de coisas que pensamos que nunca mais vamos reclamar de nada novamente. Juramos até! Só que as coisas não são A+B assim, somos humanos. Eu digo que se uma pessoa cega voltar a enxergar, ela vai ficar um dia pulando de alegria. Talvez uns dois muito, muito grata e sem reclamar de mais nada. Mas daí a uma semana, a visão já é corriqueira e ela vai voltar a xingar por besteiras como o pão que caiu com a manteiga virada pra baixo. E talvez vai reclamar se tiver que usar óculos.
Não adianta, esse é um exercício diário que devemos fazer até o nosso último dia por aqui: dar valor ao que temos de bom. Ainda que você não tenha tudo o que quis ter um dia, eu tenho certeza que você pode nomear umas 5 coisas/situações que você quis ter e hoje tem. Quem conseguir pode até brincar de Pollyanna com seu jogo do contente. A Pollyanna, pobre órfã, escolheu ficar feliz quando recebeu de doação por engano um par de muletas em vez da boneca que queria – simplesmente por não precisar usar muletas. Lindo, mas cobrar isso de pessoas reais?
As pessoas reais estão por aí cheirando “Alps” e acho que já está de bom tamanho tirarmos um minutinho do dia para pensar nessa realidade, respirar fundo, agradecer. Tentar desromantizar o passado, que nem era tão perfeito assim. E valorizar o caminho em vez do alvo no futuro que a gente nem sabe se vai chegar. Talvez pensar em 3 coisas de hoje das quais sentiremos saudades em algum momento, mesmo as mais básicas: juventude, saúde, cheirinho de bebê no colo. E isso funciona como dar a corda em uma caixinha de música. A bailarina dá as piruetas e para, dá piruetas e para… E assim vamos nos reenergizando em segundas-feiras nubladas (tanto dentro quanto fora).
Beijos e boa semana!
Que texto! Eu não lembro do Alp, mas com certeza da Pollyana haha
E é isso mesmo. Eu vejo gente dizendo que só vai fazer tal receita quando tiver tal fogão, que só vai usar essa roupa nova no dia que viajar pra tal lugar. Vivem reclamando que os filhos dão trabalho, mas daí crescem e ficam se martirizando que não aproveitaram, que passou rápido.
Eu sempre digo que eu to exatamente onde eu queria estar. E não por ser Alemanha, morar numa casa, ter um carro. Mas por acordar todo dia e ter meu marido e minha filha, poder curtir a gravidez sem ficar pensando em comprar fraldas, parar no meio da tarde e assistir a Pantera cor de rosa com minha filha. São momentos! É difícil a gente valorizar o hoje, é um exercício diário.. mas depois que a gente aprende é muito bom! Bjo
oi thaisa, sua positividade eu já notei, é uma inspiração pra td mundo que te segue, bjos
As vezes a gente esquece do quanto batalhou para atingir metas das quais hoje a gente reclama. Sejamos gratos! Que saibamos agradecer antes de pedir!
é verdade.. é um exercicio diario, eu mesma vivo me esquecendo e daí me lembrando de novo hehe bj
Que textinho mais lindo. Eu que nunca abro seu blog pela manhã, me deparo com esse texto na minha , também, segunda-feira chuvosa. Com alguns problemas familiares e bem tristinha, o seu texto me deu força. É bem isso mesmo… quanto mais o tempo passa, mais bonitas as lembranças parecem ser. Tão comum a gente escutar que “ antigamente as coisas tinham mais graça” . Será mesmo?!
Agora me preparando para dormir e com tooooodos os problemas de mais cedo resolvidos, eu me lembrei do seu texto. E fez ainda mais sentido. Obrigada!
Bjos
oi karol, que bom que ajudou!
ja passaram uns dias, espero que hj esteja tudo melhor ainda! bjos