E pensar que há uns 10 anos eu detestava cogumelos! Atualmente prefiro fungos a carne, acreditam? Estou sempre fazendo receitas com os mais variados tipos. Por aqui existe um tipo de cogumelo chamado Pfifferling que só achamos para comprar fresco no alto do verão e assim permanece por alguns meses e depois somem. 🙁 Esses cogumelos são do gênero Cantharellus e no Brasil têm o nome de canário ou rapazinhos. Não sei se é porque eu praticamente não cozinhava no Brasil, mas nunca vi por lá. De qualquer forma, acho que os Shimeji são bons substitutos em terras tupiniquins. Mas aqui, como sou epocazeira de carteirinha, estou aproveitando os frescos do supermercado para fazer minhas receitinhas favoritas com eles. Duas delas já tinha feito ano passado e repeti nesse final de semana e aproveito para compartilhar com quem também quer aproveitar a época de Pfifferlinge! 🙂
Como limpar os Pfifferlinge:
Esses cogumelos devem ser lavados de forma diferente dos de Paris, por exemplo. A melhor forma é limpar individualmente com um pincel de cozinha, um a um, tirando a sujeira. Daí você os joga numa bacia d’água, escorre numa peneira e seca. Daí você corta a parte inferior dos cabinhos fora e eventuais partes amolecidas.
Sopa de creme de milho com Pfifferlinge |
Essa receita eu modifiquei levemente da revista alemã Brigitte e pode ser bem difícil (para não dizer impossível) reproduzir com exatidão no Brasil, mas dá para substituir ingredientes. Sabe, vejo muitos brasileiros sofrendo com coisas que não se encontram aqui – choram pelo chuchu e mandioquinha derramados – mas eu pessoalmente acho que o contrário é absurdamente maior. Então sempre vejo o lado bom e fico feliz de poder usar ingredientes que não teria a oportunidade de usar por lá. Essa sopinha é a maior comfort food ever!
Ingredientes
– 1 batata grande (aqui use o tipo mehligkochend) – eu usei umas 6 pequenas Frühkartoffeln
– 1 lata grande de milho (285g sem água)
– 750 mL de caldo de legumes (mais concentrado que o normal) – pode ser caseiro ou industrializado. Aqui na Alemanha sempre uso aquele cremosinho da Knorr, o Knorr Bouillon Pur Gemüse – coloco dois potinhos nos 750mL de água quente e misturo.
– 1 colher de sopa de Meerrettich – raiz forte branca
– 50g de Schlagsahne – que é parecido com creme de leite fresco
– pimenta moída na hora e sal a gosto
– 100g de cogumelos Pfifferlinge
– duas cebolinhas dessas tipo chalota (Schalotte)
– 1 colher de sopa de manteiga
– um pouquinho de agrião-de-jardim (Gartenkresse) ou alguma outra erva para finalizar
Ingredientes no Brasil: eu substituiria o Pfifferling por Shimeji. O Meerettisch é típico do norte da Europa e eu substituiria por alguma mostarda fina picante e o Gartenkresse (agrião-de-jardim) por qualquer erva, como salsinha. E usaria creme de leite fresco em vez do Schlagsahne. Se não tiver chalote, usaria uma cebola normal pequena, mas deixaria ela reduzir mais tempo para não roubar o gosto.
Modo de preparo:
Prepare o molho de legumes. Eu dissolvo dois Bouilllons Pur da Knorr em 750 mL de água. Descasque as batatinhas (ou a batatona) e corte em pedaços menores. Escoa o milho na peneira e daí você adiciona milho e batata ao caldo de legumes ao fogo médio. Deixe cozinhar uns 10 minutos e teste se a batata está macia com um garfo. Daí pegue um mixer (uso o de mão mesmo, direto na panela) e com cuidado para não se queimar, faça da mistura um purê. Daí você passa essa mistura numa peneira, para ficar um creme liso mesmo. Eu particulamente gosto de coisa rústica, mas nesse receita concordo que essa etapa deixa tudo mais phyno! Adiciona o Meerrettich (raiz branca forte) e os 50g de Schlagsahne (parece com creme de leite fresco), ajusta o sal e a pimenta. É importante não deixar ferver mais depois de adicionar o Meerretich, pra não perder o seu clássico ardidinho! Em outra panela, você derrete uma colher de sopa de manteiga joga os Pfifferlinge com a cebola chalota picada em pedacinhos. Os cogumelos menores eu deixo inteiros mesmo, os grandões corto em pedaços menores. Uns 5 minutos depois, ajusta sal e pimenta. Você então monta o prato com a sopinha, joga um pouco dos cogumelos em cima e finaliza com as ervas.
Medalhão de filet de porco com molho de Pfifferlinge e Spätzle |
Eu não sou fresca com carne – uso a moída e frango do Aldi, sabe? Mas em se tratando de medalhão de filet de porco, acho que os do açougue fazem TODA a diferença no sabor. Se a qualidade for mais ou menos, vale a pena fazer uma marinada como essa do Panelaterapia. Mas sendo a carne ótima, apenas sal e pimenta já deixam o gosto incrível! A receita do molho também é modificada da Revista Brigitte! Já notaram que amo as receitas deles, né? 🙂
Ingredientes
– Cerca de 500g de uma peça filet de porco (Aqui no açougue ou você pede Schweinelendchen)
– Cerca de 500g de Pfifferlinge ou outros cogumelos. Desta última vez eu estava com cogumelos de Paris que iam perder então misturei! Piquei uns 80% e deixei uns Pfifferlinge inteiros separados.
– Uma colher de sopa de pimenta verde (Grüner Pfeffer)
– Um shot de conhaque ou vinho branco
– Uma colher de sopa de molho inglês
– Muita salsinha picadinha (aqui uso 30g, um pacotinho do Rewe)
– 50 mL de Schlagsahne (tipo creme de leite fresco)
– Uns 400g de Spätzle ou outra massa para acompanhar
Exemplo de pimenta verde
Ingredientes no Brasil: Substituiria os Spätzle por uma massa qualquer, usaria uma mistura de cogumelos frescos quaisquer. Com cogumelos de Paris também fica um molho delicioso. E, mais uma vez, substituiria o Schlagsahne por creme de leite fresco.
Modo de Preparo:
O medalhão:
Você corta o filet de porco em medalhões de uns 2-3 cm de espessura ou como preferir. Muito se debate sobre colocar sal/pimenta antes ou depois, sendo que muitos experts falam para colocar sal só depois porque deixa a carne dura. Mas depois que li isso aqui me convenci do contrário e faço assim: o sal coloco antes, pois não vai deixar a carne dura desde que não passe de 15 minutos. Já a pimenta sim coloco depois de grelhado. Então resumindo: tempero generosamente com sal rosa, daí levo à frigideira quente com um pouco de azeite (ou qualquer óleo que preferir) e deixo uns 3 minutos de cada lado até dourar. Coloco em cada lado a pimenta moída na hora e envolvo cada pedaço em papel aluminio e levo ao forno não muito quente (uns 150 graus) e lá deixo uns 10 minutos, porque ao contrário de muitos europeus eu não gosto de carne vermelha dentro. 🙂
O molho
O grande super star desse molho é a pimenta verde, acho que deixa o sabor super sofisticado! São grãozinhos verdes que vêm numa marinadinha. Dei um Google e vi que tem no Brasil também, tipo essa. Na panela onde está o caldinho da carne, você pode colocar um pouquinho de manteiga e adicionar os cogumelos picadinhos. Junte uma colher de sopa de pimenta verde e deixe reduzir poucos minutos. Depois adicione os cogumelos inteiros que sobraram, deixe murcharem um pouco, dê um sustinho com conhaque! Daí adicione a salsinha picada e depois o Schlagsahne (“creme de leite”) com um pouquinho de molho inglês.
Sirvo com Spätzle, que é uma massa típica aqui do sul da Alemanha – que eu amo! Só seguir as instruções da embalagem!
Curiosidade: Pfifferlinge & Chernobyl – alguns cuidados a tomar
Uma outra observação é que esse tipo de cogumelo é dos que mais absorve coisas do solo. Daí é importante ver a procedência e forma de cultivo. Eu evito comprar, por exemplo, da Ucrânia e afins e até mesmo da Baviera por causa do acidente de Chernobyl. Foi há mais de 30 anos, mas ele ainda vai deixar o o solo contaminado com material radioativo por várias décadas. Por causa da chuva, os elementos radioativos se espalharam por uma área enorme, inclusive pela Alemanha. Em relação a esse acidente, nós que moramos por essas bandas temos que ter cuidado ainda com outros alimentos, como cenouras. Para vocês terem idéia, ano passado testaram a carne de javalis de uma cidade da Baviera e encontraram uma quantidade absurda de Becqueréis neles, afinal são bichos que se alimentam de coisas do solo. Nem sou eco-freak, mas eu acho isso longe de ser uma bobagem. Não acho que precisa evitar totalmente cogumelos dessas regiões, mas talvez se informar mais onde foram produzidos. Por exemplo, muitos são produzidos em estufas especiais, então não há problema.
Locais com solo contaminado por causa de Chernobyl
Beijos da fã de todos os tipos de cogumelos não-alucinógenos e não-venenosos!