Post estilo diarinho contando um pouco dos 100 dias da minha vida com a Lili. Já faz mais de 3 meses da experiência mais transformadora da minha vida. Muito mais transformadora que casar, que mudar de país, que perder pessoas. Ôxi, muito mais. E como tudo: algumas coisas foram exatamente como pensei que seriam, outras foram melhores e outras piores! Normal, né?
Os primeiros dias após chegar do hospital tiveram a chatice de eu ainda carregar as dores do corte e os sintomas da anemia, mas estava psicologicamente muito bem. Nessa época apareceram muitas visitas, inclusive da doula (me deu mais trabalho do que ajudou, porque não precisei dela rs), às vezes 6 pessoas ao mesmo tempo – e de alguma forma eu tava era dooooida pra ficar sozinha com ela em casa.
O mundo paralelo
Mas o que mais me marcou nesse tempo? Foi quando lá pela sua terceira semana de vida eu tive um choque de realidade, quando conheci “o mundo paralelo da maternidade“. Foi um dia em que fui ao centro com meu pai e ela dormia no carrinho (bons tempos, não dorme mais no carrinho). Fomos ao Kaufhof comprar uns presentes pras minhas sobrinhas e quando chegamos lá, vi a escada rolante que sempre usei e tive que ignorá-la e pela primeira vez procurar o elevador mais próximo. Achamos e esperamos uns 5 minutos pra ele parar no térreo. Saíram pessoas com carrinho de bebê. E nós entramos com outras pessoas com bebês. Alguns longos segundos ali e todos se entreolhando meio que pensando “tamo junto!”. Enfim, após 1782726728283728283 segundos chegamos ao andar de baixo. Essa experiência me marcou profundamente, inclusive fiquei mal esse dia e atazanei minhas amigas no whatsapp. Ouvi o CRASH POW BANG de histórias em quadrinhos. O som de atravessar o mundo paralelo.
O mundo em que tudo demora mais, em que tudo tem que considerar os filhos, em que você olha pros lugares pensando se ali um carrinho passa/cabe, em que você sai de casa toda carregada de coisa por causa de um mini ser-humano. Em que você começa a enxergar como existem bebês e crianças e filhos. POR TODA A PARTE – como você não viu antes? Em que às vezes você se questiona se há um complô em que ninguém avisa a treta que é ter filho, pra todo mundo ter e IF IM GOING DOWN YOU’RE GOING DOWN WITH ME. Mas em que outros momentos você vê aquele sorriso banguela e entende … não há complô algum. Você enxerga o mundo-matrix de tudo aquilo que você sempre leu as tais ~mães~ descreverem e nunca deu bola e ainda achou chato ter que ler. E eu pensei em quantas vezes torci o nariz pra ler “só mãe sabe” (SÍH Mí SIBIIII) e o quanto mandei mentalmente todas tomarem no cool, das vezes que chamei licença maternidade de “BABY VACATION” para no fim Zeus apontar pra mim e falar “CUMPRA-SE!” e me fazer atravessar pro outro lado. Pera que o Pânico tá batendo na minha porta com as sandálias da humildade.
Mas aqui – um mundo sem Lili? Inimaginável. Outro dia sonhei que ela não estava mais em lugar nenhum e acordei com uma tristeza enorme, só para vê-la no bercinho e sentir o maior alívio do mundo. Quando ela nasceu falei pro meu marido que eu estava preocupada porque ainda o amava MUITO mais do que a amava. Aqui portanto não houve paixão-instantânea-miojo mas o amor que cresce a cada dia. Ó, não é fácil convencer meu coração e entrar na minha panela. Mas ela conseguiu e atualmente uma escolha de Sofia entre os dois já seria mano a mano.
A parte mais divertida é ver seus progressos. Como já conheço seus trejeitos, que aparecem e um belo dia somem. A Lili-Louca, a Lili-Tartaruga, a Lili-Olivia-Palito ja chegaram e foram embora sem dar tchau. Mas surgiram outras. A forma que ela acorda feliz, pronta pra viver. Ela acorda igual a um cowboy domando um touro bravo, só falta dizer “YEE-HAW, vem mundão, tô pronta pra você”. Quando eu via bebês de três meses não imaginava o tanto de personalidade que cabia ali. As vezes acho que tenho o bebê mais curioso do mundo, a chamo de “Curious George” e desconfio que por ser tão curiosa é que ela só consiga tirar soneca virada pra mim no sling.
Pensando transcendentalmente, é interessante como tenho sido obrigada a trabalhar algumas deficiências minhas. Menos egoísmo, mais energia e mais força. Ou você consegue ou você consegue, saca? Qual a outra alternativa? E ver o quanto eu sou resistente/forte pra cacete. Quem mora no exterior sabe que a tal “rede de apoio” é limitada. Às vezes tá mais pra ponto de apoio e olha lá. E me permitam a grosseria e soberba de chamar, aqui no meu espaço pelo qual pago 8 euros mensais, essa expressão “rede de apoio” a expressão mais pau-no-c* do universo. Meio raposa e uvas talvez, mas aaaaaaah que alívio poder escrever isso.
Ah claro, sinto falta do meu trabalho para ter mais a reportar por dia do que a quantidade de golfadas e fraldas explosivas. Muitas vezes é um tédio extenuante e eu nem sabia que as duas coisas poderiam coexistir. Eu poderia voltar agora mas sigo “afastada” porque prezo muito pela amamentação exclusiva (já que foi me dada essa bênção/sorte) e também acho bom estar presente nas primeiras fases da introdução alimentar. Também é um presente ver cada pontinho de sua evolução. Ser 100% mãe em 2019 é um esforço que tenho feito por ela. E admiro as mães para as quais isso não é um esforço e valorizo esse trabalho como nunca valorizei. O pagamento da minha exaustão é que não perco nada, absolutamente nada. E tenho certeza que até agora ela só recebeu respeito, amor, passeios e muita musica e historinhas. Porque oftalmo não mostra baby shark etc antes dos dois anos (acho) e meu marido ainda é contra bouncer. Ferrou. Ou seja: tenho que reinventar o entretenimento diário. Ela fica uns 15 minutos apertando as teclas piano e eu juro que ela é a nova Beethoven. Já até mandei vídeo pra minha professora, que vergonha alheia (mãe é tudo igual, rs). Tenho feito com muita paciência, respirando fundo muitas vezes – exceto por um dia que ela chorou tanto que eu a olhei nos olhos e chamei de CHATA. Arrependi depois, claro. kkkkkk
Já posso até dizer que tenho uma companheirinha. Saímos nós duas fugidas do calor por essas últimas duas semanas e nos alojamos na casinha deliciosa dos meus sogros. Como comi bem, sô! Preciso agora de uma desculpa pra me instalar por lá no inverno também, hehehe. Apesar que por eles ficamos por lá mesmo, super corujas.
Bom, assim foram os últimos meses!
Iniciaremos dois meses diferentes agora, pois meu marido vai ficar esse período de licença e nesse tempo se Deus quiser viajaremos bastante. Daí vem o inverno, adaptação na escolinha e eu volto a trabalhar. Acho que então a vida ficará mais organizada pois vão me sobrar umas 3:30h por dia pra eu fazer o que quiser antes de buscá-la. Será que vou saber lidar com tanto tempo livre de novo? Lol.
Daí ela vai andar, vai falar, vai crescer e eu nem vou perceber. E se bobear, até do sling eu vou sentir saudades.
Beijos