No último mês, o banzo me pegou de vez. Acho que foi quando caiu a ficha que estava já há muitos meses sem ir a BH – pensei: é, eu REALMENTE mudei de país. Sempre tive o hábito de ler diariamente as notícias na internet, ainda que superficialmente: Globo e Estaminas. Faz vários meses que incorporei o hábito de ler também o Badische Zeitung e pelo menos dar uma olhada rápida na Spiegel, porque notava que às vezes perdia notícias locais importantes. Haja tempo, né? Mas o pior foi ver que isso não era suficiente. Por mais que me esforce, vira e mexe me vejo totalmente por fora de assuntos do Brasil. Todo mundo comentando algo que não sei o que é.
Fora as milhões de Brasil-celebs que aparecerem a toda hora e nem faço idéia mais. E isso só tende a piorar. O problema dessa fase do banzo é que a gente esquece tudo o que tem de ruim na pátria-mãe, só lembra das coisas boas. Neste momento a minha percepção do Brasil é a mais linda e platônica o possível. Tipo “minha terra tem primores, que tais não encontro eu cá“.
Outra coisa que não me incomodava mas que começou a me incomodar há algum tempo são as tarefas domésticas. Assim, nada contra as tarefas em si. Uma parte de mim até gosta de cuidar da casinha. Mas é porque quando chega o final de semana a gente começa a arrumar, limpar, lavar, passar, dobrar, às vezes cozinhar e limpar tudo de novo e daí a gente assusta e são 17h do domingo. Isso porque divido as tarefas com o digníssimo. E poxa, trabalho a semana toda e ver meu final de semana se escafeder assim é fueda. Somam-se à isso algumas “neuroses de casa” de minha parte, que em nada ajudam. Por exemplo, pro meu marido a gente devia lavar as roupas de cama e enfiar na cômoda sem passar. Mas eu gosto muito de abrir a cômoda e estar tudo passadinho. O mesmo serve pros panos de prato – quem precisa de passar panos de prato? Eu, aparentemente. Isso me custa horas e mais horas.
Isso sem contar que me tira tempo de leitura e estudo, que é muito importante pra mim e fico muito ansiosa quando vejo que não estou dando conta. Ou mesmo tempo pro blog. 🙂 Por isso, estamos pensando em contratar uma diarista. Não é impagável igual se pensa (mas claro que bem mais caro que no BR), mas o limitante maior é a preguiça de ter uma pessoa estranha sozinha com minhas coisas, ou mesmo estragando, quebrando, fuçando. Isso já era um problema que eu tinha no Brasil (nos últimos anos eu que lavava minhas roupas mesmo tendo diarista), aqui vai ser mais difícil ainda. Mas só de ganhar mais tempo livre no final de semana não ia ser nada mal. Bom, depois conto o que eu decidi.
Para piorar a situação, me tornei uma marmiteira. No geral tento fazer coisas rápidas e saudáveis/gostosas na medida do possível, mas sem qualquer neura. O objetivo é só não ter que comer comida de microondas mesmo. É um hábito legal mas me consome mais tempo livre… Aos poucos estou montando um post e depois divido algumas receitas com vocês! 🙂 Mas o que eu queria mesmo era um self-service com comidinha simples e variada, tipo os que temos no Brasil (sds, Cozinha da Jane).
Enquanto isso, no trabalho, se por um lado a comunicação está mais tranquila que nunca, de vez em quando me dá uns momentos de revolta: “nunca mais vou falar português nas consultas???? pode isso, Arnaldo??? Nãaaaao!!!” e já imagino a cena de eu ligar o foda-se e começar a falar em português com meus pacientes. Claro que não vou fazer isso, mas é o que chamo de “Ana Imaginária” – quando a gente se imagina fazendo birutices que na realidade não irá fazer nunquinha. Mas alivia a tensão de certa forma, haha!
Efeitos colaterais do banzo existem e alguns são no mínimo interessantes: primeiro, só tenho ouvido música brasileira. Comprei 15 CDs na Apple Store, de Leandro e Leonardo até João Gilberto. Nem Beatles tenho tido vontade de ouvir mais. Vou trabalhar todo dia ouvindo essas músicas, acho que alivia um pouco o coração ouvir um pouco de português. Quando o CD é ao vivo me sinto melhor ainda, pois ao ouvir o coro cantando Oceano junto com o Djavan sei que tem uma multidão em algum lugar do mundo que também conhece/ama a música assim como eu. Me sinto acompanhada!! hahaha Outra coisa é que nunca tive tanto salgadinho no congelador. Congelei muitas coxinhas e até comprei uma fritadeira. Daquelas de óleo mesmo, porque pra mim coxinha e pastel ou se frita ou não se faz! E amei a minha fritadeira, apesar de ser na contramão da moda-fit! 🙂
Por último, à medida que o verão vai acabando, estou começando a realmente me preocupar com o inverno. Lembro que no inverno passado eu não estava trabalhando e fazia todo o esforço para levantar cedo mas vira e mexe ficava na cama até às 10:30 – coisa que nunca me acontecia antes! Agora eu terei a obrigação de levantar, imagino que vou conseguir népossível, mas acho que meu corpo vai sofrer muito – sair na escuridão e voltar na escuridão. Só ver a luz do dia no final de semana! É muito pouco fisiológico isso. Fora o medo da neve. Aqui quase não neva – apesar de ter tido 3 dias bem cheios de neve no inverno passado – e no lugar em que trabalho na maioria das vezes (aqui pertinho) também não. Mas pelo menos 1x por semana vou trabalhar no fiofó do Judas que é bastante alto, passando pelas estradas cheias de curvas da Floresta Negra – tenho ouvido relatos horríveis de neve e gelo nesta época. Nunca dirigi na neve e estou morrendo de medo. Por isso, daqui a algumas semanas vou quebrar o cofrinho e trocar de carro. Nem me deixa feliz isso, pois na verdade queria continuar com o meu Ogromóvel porque não dou a shit pra carro, mas segurança em primeiro lugar, né?
Fora isso, eu tenho lá minhas estratégias para lidar com o banzo. Elas são, contudo, meio questionáveis. A própria leitura das notícias e os “n” relatos de violência que, se por um lado me apertam o coração, por outro me deixam aliviada de estar bem longe. E a cotação do real né – nas minhas próximas férias em BH vou chegar falando assim:
Bom, eu disse que eram estratégias questionáveis! 🙂 Pra pelo menos compensar o post reclamação-pura, haha! Preciso pollyanizar mais minha vida!
Beijos banzudos!