03
maio
2015

Dores do crescimento, ou: a volta à labuta em um novo país

Postado por Ana em Diário de uma expatriada newbie

Após algum tempo de volta à ativa, seguindo a sugestão da querida Elisa, vou compartilhar um pouquinho (das sensações) de como está sendo voltar ao mercado de trabalho em um país diferente, em uma área tão “complicada” como a medicina.

Bom, tem sido matar um leão por dia, mas o leão é a cada dia menor. Vou poupá-las de mais detalhes, mas são muitas as diferenças. Fora isso, o cansaço é algo que nunca experimentei antes. Não nesse nível… Uma mistura de cansaço físico e mental. Físico porque realmente é um volume muito grande de trabalho, e tudo tem que ser feito muito rápido.

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Mental pelas diferenças, novas adaptações e a língua. Sim, eu falo alemão avançado. Mas no dia-a-dia estou fazendo uso da língua no seu patamar mais alto, e ativamente e umas 10 horas por dia. Não é nível C1 coisíssima nenhuma, mas sim C2 pra coisa funcionar. Por isso que é MEGA justo que peçam um nível alto para revalidar o diploma, ou de fato não seria justo com os pacientes. Não acho fácil explicar a rebimboca da parafuseta em alemão, não mesmo. Na hora do vamuvê, ninguém quer saber se sou estrangeira, e tenho que dar conta do meu trabalho igual a qualquer colega que cresceu, estudou e trabalhou aqui por anos. Por outro lado, não há espaço para temer erros – eu tenho que me comunicar, então com ou sem dúvida eu dou o meu jeito e os pacientes entendem. Alguns chegam falando dialeto (Schwäbisch, Badisch ou Alemmanisch, depende do lugar) e eu quero morrer. Isso, como já imaginava, tem seu lado bom: ao fim do dia eu já melhorei em todas as esferas da língua (fala, escrita, ouvido, leitura), é o mais intensivo dos cursos de língua que eu poderia ter. Nem consigo estimar o quanto terei melhorado daqui a um ano. Mas isso tem seu preço – que é chegar em casa e desabar no sofá sem nem conseguir mexer o corpo mais. Mas quando estou saindo de casa (super) cedinho, vejo todas as pessoas indo às suas lutas diárias e daí respiro fundo e consigo sentir a alegria de estar trabalhando. Essa satisfação supera as dificuldades – fora que lutei foi muito pra isso! Voltei a ter minhas coisas, muitas histórias para contar (boas ou ruins, são MINHAS), meus colegas, meus perrengues, minhas conquistas, meu dinheiro, minha independência. E, às vezes, eu até consigo sentir um tiquinho de orgulho de mim mesma. E…acontece diariamente, de eu estar no meio de um exame – em um flash me dou conta do que está acontecendo e me dá uma alegria intensa de ter esse privilégio. Afinal, fiquei uns 8 meses sem fazer isso e, quando mudei, tinha um temor lá no fundo de nada funcionar e eu nunca mais ter isso novamente. E, na minha profissão, quanto mais se espera, mais difícil fica de voltar. Estou aprendendo bastante também e, como sempre acontece comigo, quando tenho rotina consigo estudar bem mais! Como vocês podem ver, não é um mar de rosas – mas os grandes aprendizados da vida vêm assim mesmo. Se a gente fica muito confortável, provavelmente é porque não está evoluindo muito mais.

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É claro que a dor é inevitável – mas sou muito grata por ter maturidade de saber que são dores do crescimento. Quando eu era mais nova e sentia no peito essa angústia da mudança (nunca gostei de mudanças) era terrível porque eu não sabia que iria melhorar. Daí, após acontecer trocentas vezes, comecei a perceber que sempre melhora. Por isso, hoje sei que os rostos estranhos sempre tomarão contorno, que as novidades sempre se tornarão rotina, que o desconhecido sempre será assimilado e que aos poucos a vida sempre volta a correr mansa. Esse é um resultado do qual se ocupa fatalmente o passar do tempo. A angústia, por exemplo, eu já não sinto mais. Acho que em um, dois anos, serei uma versão melhorada de mim mesma, graças às dores desses dias.

Assim espero!

Beijos da blogueira que agora só funciona com post programado

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