19
março
2020

Mas o céu continua o mesmo

Postado por Ana em Coisas da Ana

Olá, tudo bem? Ahn, quer dizer, essa pergunta foi quase como quando a gente pergunta isso pro parente do falecido no velório. Eu imagino que não esteja tudo bem, mas vai ficar.

Eu me ausentei do blog apesar de estar bem presente no instagram (@anacris.de). Como vocês sabem, 2019 foi um ano muitíssimo difícil e atarefado para mim. E tudo o que teve de difícil teve de bonito também. Eu me reencontrei, me reinventei. Aprendi a ser mãe, a me desdobrar, a fazer 128368913 coisas ao mesmo tempo, e rápido. Em janeiro começamos a adaptação na minha bebê na creche – foi longa (5 semanas) mas hoje acho que valeu a pena. Foi tão devagar que ela não sofreu. E por consequência (apesar da preguiça, he he) eu também não sofri. Ela se adaptou maravilhosamente bem, cumprindo a profecia de todas minhas amigas de que bebê sob cuidados de outrem se comporta diferente. Eu acabei colhendo os frutos também – ela, ariana brava, ficou muito mais doce. A vida foi ficando linda. Tive um ar para respirar dos cuidados com bebê 24/7 e pude aproveitar melhor nosso tempo juntas. Finalmente dei um jeito no visual : comprei roupas novas, fiz análise cromática com a Gabriela Ganem (aque apareceu aqui em Freiburg), cortei meu cabelo e até troquei a cor com uma brasileira do Luxemburgo! E, quando não podia mais melhorar, ainda voltei a trabalhar. Como fiquei feliz em voltar – e em meio período ainda, o equilíbrio que sempre quis. Primeiro o trabalho fazendo o que amo – quando ficava cansada já ia pra casa, preparava jantar pra todo mundo e ia buscá-la na creche. Isso durou umas duas semanas e fiquei um dia contemplando essa nova rotina e, como tudo na minha vida – é só eu contemplar e vráaaaaaa.

Tá. Seria muita soberba achar que eu fui a responsável pela epidemia do Coronavírus, que está literalmente fazendo quase toda a população mundial parar. Que já levou tantas vidas preciosas e tantas outras levará. Eu, assim como quase todo mundo, não consegui enxergar a gravidade no início. Só pensava no Influenza, que também mata tantos idosos todos os anos (e muita gente ainda nem se vacina). Temia sim o pânico das pessoas. Talvez o que eu mais tenha subestimado no início era a capacidade dessa epidemia de colapsar totalmente um sistema de saúde. Que alguém que desenvolve um quadro grave ocupa um leito especial e caro por várias semanas. E que, com vários doentes ao mesmo tempo, não há mais vagas nem para o avô, nem para o neto que sofreu por azar um acidente de carro e precisou de UTI. Ou mesmo pro neto que entrou na estatística dos azarados e precisou de respirador mesmo sendo jovem e “saudável” (acontece também).

Hoje sei que é sim muito grave. Eu confesso que ouvia na infância histórias da gripe espanhola e pensava em como devia ser horrível – nunca achei que veria algo assim. Além do 11 de setembro essa é a segunda coisa que vivo que tenho certeza que vai mudar o mundo para sempre. Vai mudar a forma com a qual nos cumprimentamos, vai mudar o valor que damos ao rolo de papel higiênico e às latas de molho de tomate. A uma simples sessão de cinema (ok, nem tão simples quanto temos filhos). Vamos pensar 3x mais antes de jogar aquele restinho de macarrão cozido fora. E olha que nem está faltando alimentos ainda, efetivamente. Mas deu para sentir o gostinho do pânico, da corrida desenfreada do “cada um por si“.

A Angela Merkel disse ontem no discurso que esse é o maior desafio na Alemanha desde a segunda guerra. O Macron disse há uns dias que a França está em guerra. Então não era só da minha cabeça que, quando eu sentia os ares nas ruas há uns dias, eu pensava nas guerras. Eu senti um pouco do medo e da tensão no ar. E daí olhei pro céu e pensei que aquele mesmo céu testemunhou também os tempos de medo dos bombardeios. E que entre uma bomba e outra ele continuava o mesmo – o céu, as flores, as árvores – todos indiferentes ao caos humano.

O mundo vai seguir, isso vai passar. As consequências para cada indivíduo eu não sei quais serão, mas tudo vai passar sim. Primeiro passa a doença, depois passa a catástrofe econômica. É importante fazermos nossa parte para não ficarem depois cicatrizes da perda de nossos pais, avós, companheiros. E dividir o que temos – pagar a diarista que não está indo trabalhar é um começo.

Quanto a mim, seguirei um esquema de emergência no trabalho e estarei daqui a uns dias atendendo urgências – não de pacientes com diagnósticos de coronavírus, mas pela quantidade atenderei com certeza infectados a uma distância de 30 cm sem o aparato de proteção que um intensivista usa (nem tem como). Dá um aperto – e se eu virar estatística? Tento esquecer e pensar no sacerdócio, na missão e na humanidade.

Há mais de um ano eu namoro a página do “livro de bebê” da Lili reservada ao primeiro aniversário. Eu sempre sonhei com uma festinha de Yellow Submarine, desde adolescente! 🙂 Obviamente agora vamos comemorar só nós três aqui quietinhos, em 5 dias. Mas eu tenho certeza que se vivermos para contar a história, esta página será ainda mais especial.

Vê esta foto aqui, Lili? Você fez 1 ano enquanto o mundo passou por uma grande prova e é por causa deste momento que aprendemos tanto e nos tornamos mais fortes e humildes

Amigos, agarrem a porta do Titanic no mar que o turbilhão vai passar. Muita força, paz e saúde a todos.

Saudações a 1,5m de distância,

Ana

29
dezembro
2019

AC Retrô : os melhores e piores de 2019

Postado por Ana em Coisas da Ana

Eu mal posso acreditar que estou escrevendo a retrospectiva de 2019. Um ano que eu não vi chegar nem vi passar. Foi tão devagar e tão rápido ao mesmo tempo. Foi um paradoxo completo, às vezes ainda me sinto em maio, o mês mais longo da minha vida. Por outro lado, acho inconcebível sequer ter passado do primeiro semestre. Este ano eu estava bêbada e não foi por efeito de álcool. Entrei num universo paralelo, num filme do Tim Burton, no mundo maluco do Matrix. Foi horrível, foi maravilhoso, foi o pior e o melhor ao mesmo tempo. Enfim …. deu pra entender? hahahaha Isso foi pra mostrar que a vida ficou tão maluca que vou ter um pouco de dificuldade para categorizar as coisas como nos outros anos, pois foi tudo diferente.

Melhor viagem

Concarneau

*Suas definições de viagem foram atualizadas*. Ir ao Brasil sem ir ao salão de beleza, viagem de carro cantando 318397418461982361928312 músicas e histórias pra distrair a bebê. Enfim, tudo diferente né. Eu nem senti muita vontade de viajar esse ano, pois a partir do momento em que encontrei uma rotina que melhorou minha vida 500% eu meio que não quis sair dela. Então, o destino favorito, a Bretanha, ganhou quase que por W.O, hahaha. Mas vou ser específica e eleger a cidadezinha de Concarneau a minha favorita do ano.

Pior experiência cosmética

Eu não tive praticamente nada feito por terceiros pra definir uma pior experiência. Na verdade a pior experiência foi a falta de uma experiência cosmética bem básica – cortar os cabelos. Estou há 11 meses sem cortá-los e tem uns 4 meses que estou querendo e não consigo hahaha A melhor idéia que tive foi cortar os cabelos logo antes da minha filha nascer. Bom, mas isso vai ser resolvido ja já. Em 2020 voltam cabelos dignos E soltos, perfume, relógio e saltinho. 🙂 AMEM

Pior tendência fashion

Essa aí eu anotei no início do ano e não vi nada pior ao longo dele – delineado duplo. Lembro de vê-lo no seriado “Russian Doll“(ótimo, aliás) e um tempo depois disso, mas parece que não vingou por muito tempo.

Melhor compra fashion

o meu é verde com verde limão, mas peguei a foto do site deles, to sem tempo genteeee

Hummmmmm…. *pensa pensa pensa*. Se comprei roupa pra mim esse ano, eu nem lembro. Muito pelo contrário – doei sacos e sacos. Fui picada pelo bicho do DESTRALHE. Peguei pânico de tralha, ao ver minha casa antiga sendo tomada por tralhas de todos os tipos (a gente acha que bebê não ocupa espaço, né …) Mas a melhor peça de vestuário do ano foi um par de chinelos que ganhei da minha irmã. Eu, que nem achava que havia alternativa às Havaianas em casa (em meses quentes, senão é meia mesmo) me surpreendi com “chinelos massageadores” da marca I wanna sleep . Achei uma delícia. Gente, que coisa – e isso porque eu ganhei um lenço Hermés de Natal. Veja como as prioridades mudaram, kkkkkkk.

Melhor compra de beauté

Foi esse delineador aí da foto acima, o Tattoo Liner, da Maybelline. Eu era muito satisfeita com o Liner Express da mesma marca, que uso há anos. Só que comecei a ter dificuldade de achar – vira e mexe não achava na DM – e já estava entrando em pânico com medo de ele sair de linha, quando comprei esse novo, na cara e na coragem – e vi que parece que é o mesmo estilo de tinta (e ainda melhorada) e um aplicador super parecido (e melhorzinho ainda) – works for me!

Melhor meme

Pensei primeiro no “saudades do que a gente nem viveu ainda” do Neymar, mas como denúncia de estupro é coisa séria, o troféu vai pra versão de “Shallow” da Paula Fernandes. Juro que achei que era trollagem quando vi. Como assim, gente? Será que ninguém de bom senso viu a versão antes de aprovar? Parece mesmo que a letra foi feita pela Gretchen no meme acima, kkkkkk.

Melhor bafão de celeb

Se foi verdade, não sei – mas eu morri de rir do “surubão de Noronha“, apesar de nunca ter ouvido falar num tal de José Loreto que foi onde o bafão começou.

Melhor momento pessoal

Rainha Lívia, o amor da minha vida

Ao contrário do que vocês imaginam, não foi simplesmente o dia do nascimento da minha filha, mas sim um dia em que eu olhei pra ela e senti o amor dolorido de mãe pela primeira vez. E foram vários meses pra isso acontecer.

Pior momento pessoal

O dia mais quente do ano, 39 graus – saí de casa e fiquei com ela cochilando na floresta

Eu já tinha escrito o parágrafo todo, quando lembrei que obviamente o pior momento TERIA que ser o parto né? Os 10 minutos da complicação anestésica mais maluca da história, quando eu, sufocando, cheguei a pensar “Adeus, vida“. Só que, engraçado, não foi. Pois agora na minha cabeça, ficou uma coisa tão maluca que nem parece que foi real. Eu não falo sobre isso com olhos cheios de lágrimas nem nó na garganta. O assunto sequer me incomoda. Parece que foi um sonho, sei lá. Eu também tive as dificuldades esperadas no puerpério, mas uma força absurda para enfrentá-las que nem eu acredito – graças a Deus não tive depressão, nem problemas com amamentação, que são o que “costumam pegar” no início.

Então o pior momento “de verdade” pareceu um pouco com 2018 – foi quando juntou o calor com o apartamento totalmente não-adequado pro calor – e o zelador ainda destruiu o blackout me deixando com um quarto claro e quente até as 23h da noite, com uma bebê de semanas de vida. No verão tivemos que por caixas de papelão por fora de todas as janelas (porque não tinha persianas externas) e eu fiquei uns dias com a Lili tipo dentro de um “bunker” (porque a rua estava com o sol quente demais). Pra piorar, ela só dormia no canguru, com muito choro e suor – de 6 a 7h por dia. Tinha dia que eu ficava de calcinha e sutiã e o canguru. hahhahahaaha Passou, passou, life is good again.

Planos para 2020

Eu estou muito animada com 2020. Pois estamos começando o ano com as coisas todas encaixadas, em casinha nova com muito espaço e que com certeza será mais fresquinha no verão. Lívia agora tem um quartinho, como sempre sonhei! O sono dela já é quase ideal, rotina regradinha e está ficando cada vez mais divertido ser mãe dela. É tão bom ela já entender TANTAS coisas (por ora só português kkkk). É uma pessoinha, minha amiguinha! Era um tédio-trabalhoso quando ela tinha 1 mês de vida e eu prefiro muito mais agora e com certeza só vai melhorar. E a melhor coisa de 2020 vai ser matar as saudades do meu ofício – em meio período, que é o equilíbrio entre carreira e maternidade que sempre quis. Já tenho vários planos profissionais pra ir pondo em prática aos poucos. Mas o louco é que o que eu REALMENTE quero em 2020 é saúde e felicidade pra minha filha. Tanto, que eu mal penso no que eu quero pra mim. A gente fica meio monotemática quando tem filho, inevitável né?

Bom, como sempre, um feliz ano novo pra vocês e suas famílias!

Beijos

12
dezembro
2019

O sorriso dela, meu assunto

Postado por Ana em Coisas da Ana

Escrevi isso em 2014, nunca postei e encontrei mexendo nos meus arquivos. Agora, completando 9 anos de sua partida, me deu vontade de dividir. Tenho certeza que os amigos abrirão um sorriso no rosto por reconhecê-la ao longo do texto.
<3

Nascemos com uma diferença de quase 2 anos mas permanecemos com apenas um ano de diferença na escola, algo que ela, com todos seus brains and talents, nunca engoliu. Andávamos sempre juntas e nossa mãe nos colocava em roupas iguais só que de cores diferentes. Talvez por isso, mesmo com uma cabeça de diferença no tamanho e poucas semelhanças físicas além do nariz, muitos perguntavam se éramos gêmeas. Ela tinha os olhos da família da minha mãe e eu tenho os da família do meu pai. Eu sempre me perguntei como duas pessoas que cresceram tão grudadas e passaram tanto tempo juntas se tornaram seres tão diferentes. Ela extrovertida, eu introvertida, eu rancorosa para sempre e ela instantaneamente esquecia qualquer facada que levava nas costas. Ela, muito (muito) mais inteligente que eu. E eu adorava contar seus feitos para todo mundo. Foi a testemunha ocular da minha infância e vice-versa. Ela vivia a vida de uma forma apaixonada e intensa, tinha um espírito revolucionário e aventureiro. Ressentia muito o seu emprego tão formal quando tudo o que ela queria era sair por aí explorando o mundo. Sua catarse eram o curso de Letras à noite e o mestrado encaminhado em Barcelona. Era vegetariana e eu já sabia que era questão de tempo para virar vegana também. Ficava brava quando eu apontava para suas bolsas de couro cobrando coerência. “Totalmente diferente”, dizia. Ah, nossa eterna discussão! Seu gosto para filmes era tão diferente do meu! Tantas vezes tentou me convencer a assistir aqueles filmes suecos em preto e branco e eu negava, pois só queria assistir às superproduções felizes de Hollywood. Meu argumento, em uma de nossas últimas conversas foi: “a vida já é dura demais, quero ver coisas felizes“. Eu prossegui: “e mesmo as comédias românticas não são lá muito felizes, porque acabam no auge. Não há como fugir do final e ele é sempre triste.”. Sim, eu sempre esse docinho otimista rs! Eu não sabia que essa fala minha a faria pensar, pois fez sim. Pois alguns dias depois que ela partiu, tão de repente, eu encontrei o início de um livro autobiográfico, obviamente inacabado, que ela começou a escrever. E nele ela escreveu:

Estou tão feliz. Não me importa se Júpiter ri das promessas dos amantes ou se palavras o vento leva (como ele me disse tantas vezes diante das minhas declarações de amor exageradas). O homem que eu mais amei em toda a minha vida acabou de prometer que ficaria comigo para sempre, e isso era o suficiente para preencher a minha vida inteira. Para mim não existem mais as discussões e desentendimentos do passado, tampouco as que certamente virão no futuro. Todas as nossas incompatibilidades estão para sempre dissolvidas. Não existe a tristeza, a doença, a pobreza, a falta de paciência, o tédio, o stress, a intransigência…. A monogamia e o amor eterno me parecem não só conceitos naturais para nós, mas inerentes. Minha única tristeza é saber que jamais serei tão feliz como sou agora.

Para que pensar no depois agora? Ninguém vai ao cinema e realmente quer saber o que acontece depois que o casal protagonista finalmente fica junto. Simplesmente fica subentendido que, já que eles passaram por todas as provações possíveis e imagináveis até conseguirem ficar juntos, a partir do momento em que se rendem ao chamado irresistível do destino está tudo resolvido para sempre. Não nos importamos com o que acontecerá depois, pois já intuímos: será tudo perfeito mesmo nas imperfeições. E mesmo se não for, ninguém quer assistir a uma comédia romântica sobre o tédio matrimonial e preferimos nos enganar achando que assim não será, que com aquele casal do filme será diferente.

Que subam os créditos, acendam as luzes! Não estou interessada em saber o que vai nos acontecer depois dessa noite. Prefiro me enganar achando que tudo será sempre assim: embriagantemente feliz.
P.S: É isso que dá ver tantos filmes e novelas: a gente fica completamente despreparado para a vida real.

O livro se chamaria “Todas as cartas de amor são ridículas” e ela escreveu o prólogo e o fim, mas ficou faltando o meio, assim como sua própria história.

Desde aquele triste dia eu tenho me esforçado para pensar nela em tudo o que eu vir de bonito e feliz. Para mim, é uma forma de emprestar meus olhos a ela, que tão cedo parou de enxergar a vida. E, bem devagar, a dor, indignação e saudade vêm sido tomadas pelas doces lembranças e pela esperança de que algum dia contarei aos meus filhos sobre a tia incrível que eles não tiveram a honra de conhecer.

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Beijos

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