Quando fiz aquele post do Top 10 do Louvre, a intenção era fazer do Musée D’Orsay também, mas ia ficar muito grande. Acabou que enrolei tanto que voltei ao Orsay antes de escrever este post, e aproveitei para reparar bem nos meus favoritos. É quase um clichê ouvir de quem já foi à Paris falar que prefere o D’Orsay ao Louvre. Eu mesma já afirmei isso. Hoje, acho a comparação injusta, não dá para comparar os dois. O D’Orsay é um museu compacto com obras lindas. Lá dentro você não se perde e dá aquela sensação de “missão cumprida” algumas horas depois. O Louvre dá um certo desespero – é completamente gigantesco, mesmo os maiores “leitores de mapa” se perdem lá dentro. Dá uma certa angústia e frustração. Mas se me perguntarem, apesar do conforto maior proporcionado pelo D’Orsay, o Louvre é o Louvre … Segue meu TOP 10 – em ordem meio aleatória – seguindo aquele mesmo critério de gosto pessoal, nada de entendimento profissional das artes, viu? espero que lembrem-se de mim quando virem algumas obras abaixo!

1) Slaapkamer te Arles (Quarto em Arles), van Gogh

O meu gosto é obviamente muito influenciado pelas coisas que via ao longo da vida. Tinha aula de artes no colégio, a professora era uma bruxa, mas algumas coisas me marcaram positivamente. Como não lembrar da quinta série ao ver esse quadro do Van Gogh? O quadro representa o próprio quarto do van Gogh em Arles (na França), e o que eu acho mais interessante é que a portinha à esquerda era pro quarto de hóspedes que ele preparou pro seu amiguinho Gauguin. Na verdade, a versão que está no D’Orsay é a terceira que ele fez, uma espécie de “best of” de suas obras favoritas, mas em tamanho menor. A primeira e segunda versão estão respectivamente em Amsterdam (justo) e Chicago.

2) Les Alyscamps, Gauguin

Deu pra notar acima que Paul Gauguin era muito amigo de van Gogh. Daí os dois resolveram retratar versões de Alyscamps, uma necrópole (espécie de cidade-cemitério) romana. Era uma accrópole que acabou meio “tomada” pela modernidade, e só sobrou uma rua com tumbas que levava a uma capela. Acabou tomando a conotação de um lugar romântico, por isso algumas das pinturas mostram casais passeando. Eles quiseram pintar a mesma coisa para poderem comparar seus trabalhos/estilos/percepções. Eu acho essa versão do Gauguin a mais linda.

Van Gogh fez as versões dele também, duas das quais estão abaixo:

3) Auto-retrato, setembro de 1889 (van Gogh)

Na verdade, van Gogh fez dúzias de auto-retratos. Este é, com certeza, o mais famoso. Quem nunca viu essa imagem, hein? Ela foi feita 1 ano antes sua morte, quando morava na clínica em Saint Remy. Eu na verdade acho que os quadros desta época de “internação” são os mais bonitos, mas a maioria mostra o tormento que ele estava sentindo, como o “A noite estrelada” (infelizmente está em NY). Todos feitos em Saint Remy mostravam seu rosto virado para o lado esquerdo, sem mostrar a orelha que ele tinha cortado durante um surto psicótico.

4) Femmes au puits, Paul Signac (jovens provençais no poço)

Esse é um quadro que tipicamente é MUITO melhor ao vivo. Isso porque é feito com a técnica de Pontilhismo … é tão lindo! O quadro mostra jovens de Provença tirando água do poço. O Signac morou em Provença e nesse quadro tentou mostrar as cores vivas, representando o clima da região.

5) Le Cirque, Seurat (O circo)

Esta foi, aliás, a última pintura do Seurat – se repararem bem, ela ficou inacabada. Ele tinha mania de pintar coisas sobre o circo. Este em especial era o Circus Médrano, perto do seu estúdio. O mais legal é observar na platéia a distinção entre as classes sociais: os ricos de baixo com roupa chique e o pessoal mais sem recursos lá atrás, vestidos de forma simples. É também feita com pontilhismo, e muitos consideram esse quadro um precursor do Cubismo.

6) Vétheuil, soleil couchant, Monet Sol se pondo em Vétheuil

E a eterna frustração de quando a gente quer aprender mais sobre um quadro que gosta e não acha quase nada sobre ele? Se procurar informação sobre o pum das Kardashian acha aos monetes – ô humanidade, ajudai-me! Bom, vale falar que quem, como eu, se identifica com o estilo do Monet, não pode deixar de visitar o Musée de l’Orangerie – que aliás tem o maravilhoso PLUS de que fotos são proibidas. Sério, é libertador olhar pros quadros sem mil pessoas tirando fotos. Enfim, não sei falar muita coisa sobre esse quadro, só que é uma das várias imagens que ele fez sobre a cidade de Vétheuil – e que é a pintura que eu gostaria de ter na minha sala! Não terei porque não gosto de figura de quadros famosos em casa, mas sonhar com a original enfeitando minha parede não custa, né? haha

7) Femme à l’ombrelle tournée vers la gauche , Monet (“Mulher com sombrinha, virada à esquerda”)

Pausa pro momento tiete: coisa maravilhosaaaaa. Detalhe que existe também a mulher de sombrinha virada à direita, hehe! É uma obra Impressionista representando a enteada (e modelo favorita) de Monet, a sortuda Suzanne Hoschedé!

8) La balancoire, Renoir

Essa pintura na verdade escolhi para representar/sacrificar várias outras desse mesmo estilo de Renoir , todas lindas, como Bal du Moulin de la Galette e Danse à la campagne. É uma pintura a óleo, também impressionista – aqui estão representados Jeanne, uma de suas modelos favoritas, seu irmão Edmond e amigo Norbert, hangin’ out num balanço.

9) Le déjeuner sur le herbe, Monet (Almoço na grama)

Esse quadro foi uma resposta/homenagem de Monet à obra homônima de seu quase-xará, o Manet, que aliás também está no Orsay. Ele representa pessoas em trajes típicos pariesienses da época fazendo um picnic. Enquanto o quadro de Manet tinha chocado por mostrar pessoas nuas, o Monet quis agradar à maioria e manteve as roupas. E eu aqui só imaginando qual foi a reação dos conservadores ao “L’Origine du monde” do Coubert… hahaha… Ele deveria apresentá-la no Salão Parisiense, mas não ficou pronta à tempo e ele pagou para armazená-la em um porão. Lá estava úmido e ela mofou nos cantos – quando ele conseguiu dinheiro para recuperá-la do porão, viu o estrago. Por isso, o quadro está dividido em duas partes, pois Monet teve que cortá-la em 3 partes (a terceira se perdeu).

A obra homônima do quase-xará Manet

10) Jeunes filles au piano, Renoir (jovens ao piano)

Este é o meu quadro favorito, simplesmente porque agrada aos meus olhos. Existem duas coisas que podem matar um pouco o gosto por ele: primeiro, porque ele foi encomendado, coisa bem comum na época – pintor também tem que comer, né? Era uma obra comissionada para o Museu de Luxemburgo. A segunda é que, por isso mesmo, ele acabou fazendo cópias até chegar ao favorito – essa versão do Orsay é a “oficial”, que foi entregue ao Museu de Luxemburgo. Tem outra versão no MET em NY, outras duas com colecionadores privados (seus sortudos fidapuuuta que inveja). Por fim, há uma versão a óleo (e com menos detalhes ao fundo) também em Paris, no Musée de l’Orangerie. Eu prefiro o do D’Orsay pelo simples motivo de que o rosto da loirinha é mais harmônico. Pelo jeito o Renoir preferia essa também, haha!