Havia um professor antigo no hospital onde trabalho que costumava ensinar aos seus discípulos: “Se vocês quiserem ser respeitados, não sejam educados. Eu sou odiado mas todos me respeitam, eu peço alguma coisa e todos correm para fazer.” Eu sempre escutei essa história mas achava essa uma má idéia: vou ser respeitada a qual preço? Ao preço de me tornar MAIS um ser humano ruim, de deixar o mundo um lugar pior? No, thank you.
Pois as porradas da vida têm me mostrado que o professor não estava tão maluco assim. E que, o jeito é, ao menos , ser muito menos educada do que eu gostaria de continuar sendo. Isso ficou muito claro para mim quando, recentemente, não consegui uma coisa claramente e unicamente porque fui educada demais. A pessoa “cresceu” onde não deveria crescer, unicamente porque viu minha educação como um atestado de inferioridade. A vontade era de recolher o “bom dia” e cada palavra cuidadosa que usei para conseguir uma coisa simples que pedi.
A gente cai infelizmente em uma situação chata: não mereceriam as pessoas pelo menos o benefício da dúvida? Imagina que injusto eu ser ríspida e seca “de cara” com uma pessoa que nem conheço e que, às vezes, é boa e iria me tratar super bem de qualquer forma? É verdade, e esse é um risco, o de ser uma pessoa odiosa “de graça”. Daí a gente fica sem saber como agir e pensa naqueles raros indivíduos que conhecemos que conseguem atingir o tão sonhado equilíbrio. Mas o equilíbrio é raro, quase um dom nato, e geralmente as pessoas tendem para um lado ou para o outro.
Ser Dr. Jekyll ou Mr. Hyde, eis a questão. E se não houver Deus, e se não houver recompensa alguma, será que vale a pena ser bom-sob-chibatadas mesmo assim? Ou será que, pelo menos, recolheremos ao longo de nossa própria vida os frutos da nossa benevolência? Essa resposta não me é mais tão simples quanto costumava ser, e gostaria da opinião de vocês sobre esse tema.
Which one would you pick?
Beijos, de um país onde 80% dos “bom dia” ficam sem resposta

Ana, acho que o maior problema das pessoas genuinamente “boas” (vai além até do meramente educadas) é que não tem naturalmente a malandragem de tantas outras, por isso não antecipam as maldades.
Eu simplesmente não consigo não ser educada e legal de primeira, com basicamente todo mundo, mas com o tempo tenho aprendido a relevar menos as demonstrações de que certas pessoas não merecem nada além de pura boa educação básica, sem nem eventualmente maiores cordialidades. Pq de fato, tem gente que com um mero “bom dia” já acha que pode montar em cima.
É complicado mesmo encontrar o equilíbrio, acho que isso é tarefa constante pra vida :/
Isso, Isa!! Eu não tenho pretensão de virar para uma pessoa X que não conheço e falar “Bom Dia, Senhora. Que dia lindo, não? Como vai a família?”; mas eu gostaria muito de falar “Bom dia”, e manter um bom semblante, sem que a outra pessoa ache que isso é sinal de fragilidade. Acho que basta ter um pequeno contato com o mundo lá fora para ver que é exatamente isso que acontece. Vejo pessoas sendo brutas e ganhando muita vantagem por isso. E é sempre assim. Lembro dos próprios plantões no hospital que a filosofia dos porteiros depois que as fichas acabavam era “se o paciente encher a paciência demais, aí a gente chama o médico, etc”. Ou seja: extremamente injusto. O post todo poderia ter resumido com uma frase “bonzinho só se fode”. kkkkkkkkk Bjo
Nossa, não sei quaaantas vezes já pensei isso: “bonzinho só se fode”. E parece que é bem assim mesmo, infelizmente.
Também ainda não sei como manter a educação, mas não ser considerada “mole” :T
Geralmente sou educada, mas tenho meus dias de ogra. E tá, sou educada, porém se percebo que querem tirar vantagem de mim ou querem me tratar mal, aí mudo completamente para uma ogra cuspindo fogo e sai de baixo.
Eu não acho q eu seja má educada, mas nao sou educada ao ponto de ser considerada “meiga”, durante mto tempo me atormentei por isso, principalmente durante a adolescência, por achar q isso seria um sinal maior de feminilidade.
Até hoje se fosse questão de mera escolha eu escolheria de ser mais “meiga”, mas já não enfrento crises por isso, tenho a impressão d q msm sendo educada eu sôo de forma ríspida sabe, mas é meu jeito, não sou uma pessoa expansiva logo de cara.
Acho q devemos ser “bons” sem esperar nada em troca, pq eu particularmente não espero “justiça” em vida, tô cansada de ver injustiça, gente “esperta” q só se dá bem.
Enfim acho q divaguei e nem respondi algo com relação total ao post hehe.
Bjs
Não esperar nada em troca, concordo totalmente. Mas e quando vai pro lado oposto e isso começa a te prejudicar? Talvez o que eu esteja referindo aqui como “educação” seja isso mesmo que você falou, a meiguice. Acho que tem como ser mais ríspido, mas ainda assim quase “educado” tacando um por favor no final. Dosar é uma arte… 🙂
Olá Ana! A minha opinião sobre o tema então suscitado fundamenta-se,
precipuamente, em lições do budismo ( aconselho que leia sobre a filosofia budista): todas as nossas ações neste mundo terreno são regidas pelas leis do karma, em que, basicamente, colhemos aquilo que plantamos. Dessa forma, não acredito que o desprezo e a frieza sejam maneiras eficientes de dirimir os conflitos no trato com as pessoas. Há de se haver, de certa forma uma certa ponderação. Nada é mais gratificante que a sua paz de espírito e a consciência de que você fez o seu melhor… Se não houve reciprocidade, um dia a outra pessoa, sem dúvida alguma, terá a oportunidade de refletir sobre seus atos, afinal, nessa vida somos todos iguais…. Somos todos adubo! Hehehe. Desculpe-me a intromissão. Abraço.
Oi Ana! O que eu acho difícil mesmo (para mim, individualmente) é resolver essa questão sem pensar em religião. Nem é questão de “querer alguma coisa em troca”. A questão é “se ferrar” por ser educado. Senão eu nem consideraria diminuir meu nível de, digamos assim, doçura. E vejo algum problema; imagino que todas as religiões, ou quase todas, trabalham com o conceito de recompensa, de alguma forma. Bem como o conceito de sempre fazer o bem, no matter what. E que, mais de 90% das pessoas que estão na rua aqui no Brasil tem alguma religião. E que, mesmo assim, muitas dessas pessoas agem como agem; conclusão: para a maioria, ter religião é simplesmente para constar mesmo. :/
Oi Ana, tudo bem? É a primeira vez que escrevo em um blog… Acompanho seu blog há bastante tempo, tive uma identificação imediata com vc, pois também sou médica e também adoro essas coisas de “mulherzinha” (maquiagens, etc), mas ao mesmo tempo, detesto essas blogueiras “profissionais”, que recebem jabá para tudo e cujas opiniões são bastante influenciáveis… Adoro seus posts, morro de rir com suas aventuras (aquela do cabelo no Miracurl, foi muito engraçada) e acho vc bastante corajosa de se casar e ir morar em outro país!!! Boa sorte, aliás… Quanto a essa questão da educação é realmente bem complicado…. As pessoas confundem muito mesmo…. Moro em Salvador e, acho que aqui, é ainda pior… Tudo é motivo para “neguinho” avacalhar… Como faço para lidar com isso? Sou educada, mas ao memso tempo, séria e incisiva, principalmente, no ambiente hospital…. Acho que o Hospital é um lugar sagrado e não suporto nenhum tipo de brincadeira ou falta de atenção e educação…. Quanto os paciente entram irritados, querendo descontar em cima de nós, médicos, suas frustações, trato-os com mais educação ainda e vc sabe que FUNCIONA? Eles ficam extremamente incomodados e no final, acabam pedindo desculpas…. Mas no Brasil é difícil, né? Agora, uma pergunta pessoal: vc pretende continuar com seu blog lá na Alemanha? Espero que sim… Vai trabalhar como médica lá? Mais uma vez, te desejo boa sorte! Abraço, Débora
Oi Debora, que bom! Adoro quando leitores aparecem! 🙂 Eu realmente nao costumo ter problema com pacientes, e isso que vc falou super se aplica. E com o paciente (principalmente se for do SUS) eu tenho uma paciencia/tolerancia extra, porque mto deles tao chegando ali com dor, foram maltratados e humilhados às vezes ate a vida toda. E qdo sao grossos, é pq estao com raiva da situacao e ja vêm com pedras na mao pra se proteger, por isso que COM ELES ser mais educada funciona. Agora…. prestadores de serviço em geral…. afe Maria, nao funciona nao. Vou continuar com o blog sim, normalmente ! 🙂 Vou trabalhar como médica lá, assim espero! Bjos e apareça mais!
Oi Ana! Noto que ser gentil e educado passa pra muitas pessoas a idéia de fraqueza. Dias desses li uma frase no instagram de alguém dizendo “meninas boas vão pro céu, as más vão pra onde querem”. Enxergam alguém bonzinho como alguém que não vai pra onde quer, que não tem atitude e a recompensa dessa pessoa é o céu (que ao meu ver, pra essas pessoas é um lugar chato, que só tem gente chata, então gente boazinha é chata!!!)
Pessoa má ou boa vai pra onde quer ou não, ninguém “sempre” faz o que quer, colhe os frutos que quer…Ser do bem não é uma fraqueza, é uma necessidade. Bjs
O problema é conseguir viver sendo mal educado, mesmo que esporadicamente e em situações selecionadas. Eu prefiro o “sofrimento”de levar grosseria dos outros sem merecer, do que a dor que minha alma sentirá se eu me comportar assim.
Pra mim, definitivamente, não dá 🙁
Good point! 🙂
Oi, Ana! Eu me identifiquei muito com seu dilema e com a resposta da Isa. Já gastei muito tempo pensando nisso, o que fazer, como atingir o equilíbrio etc. Até agora não consegui a solução ideal, mas não acho que passar a ser ríspida e mal-educada seja legal, não. Eu não gosto dessa ideia “House” que muitos preceptores parecem ter e não acho que eles ganhem respeito de verdade por causa dessa atitude. O que eu tenho feito ultimamente é continuar a ser educada e sorridente de início e, se vejo que tão montando em cima, passar a ser mais seca e incisiva – mas sem perder a educação. Não vou dizer que dá super certo, mas não sei se qaualquer uma das atitudes possíveis dá super certo pra alguém.
De qualquer forma, acho que nada é perfeito e que o mundo não precisa de menos um educado, nem de mais um estúpído. Acho também que não dá pra mudar assim da água pro vinho em questão de valores e coisas que nossos pais nos ensinaram, e que tentar mudar assim seria viver uma farsa. Eu, pelo menos, não aguentaria conviver comigo mesma se eu tentasse agir de uma forma pior. Não é nem por culpa, é porque vai contra tudo no que eu acredito.
Oi Cris. O problema que tenho notado é que, ao ser seca e incisiva após ter sido educada nao funciona muito nao, a “merda” de ser doce já tá feita. kkkkk É aquilo que eu falei, eu nunca tenho coragem de ser seca com uma pessoa que eu não conheço, porque se por acaso ela nao for grossa etc, eu fico com vergonha, dela e de mim mesma! 🙂
Pois, eu já fiquei desse lado, eu já recebi um trato bem rude de funcionarias que provavelmente estejam acostumadas a lidar com pessoas grossas e é muito chocante mesmo 🙁 (acontece muito no aeroporto de Guarulhos 🙂 aqui no meu país acontece muito isso nos escritórios públicos (dependências do governo)onde as pessoas tem tédio dos seus empregos 🙂 eu fico pensando “que foi que eu diz de errado?” é pior ainda quando eu tenho que falar com a pessoa numa língua que não é a minha!
Eu acho que o melhor é falar sério, com prioridade e respeito com a pessoa que se tem em frente. Na minha opinião é a melhor maneira de se entender. Se uma pessoa começa a falar comigo de mau jeito, eu já fico de mau humor e não vou nem escutar ela direito 😀 Aí, a situação fica pior rs