09
fevereiro
2018

Jantando sozinha

Postado por Ana em Coisas da Ana, Viagens da Ana

Há 10 anos eu visitei Berlim pela primeira vez – lá lembro de passar pelo Sony Center e pensar “ai, como seria bom ter uma companhia para tomar um vinhozinho ali!“. Passei reto e devo ter comido algo tipo um subway, alguma coisa qualquer na rua.

Hoje, 10 anos depois, a vontade é de voltar à cena acima e me dar um safanão nazorêia. Que bobagem!

Eu peguei o hábito de viajar sozinha aqui no velho continente. As situações são diversas: às vezes é porque me dá na telha, às vezes é por tenho congresso ou curso que só me interessa, etc. E junto com isso vieram jantares, barzinhos e tudo mais em minha própria companhia. Eu não sei em que momento essa mudança aconteceu, mas eu passei não somente a não me importar em sair sozinha, como a simplesmente adorar aquele momento. Tive muitas experiências legais, comendo bem, saboreando um , e inclusive aprecio as vantagens de muitas vezes conseguir lugares espontâneos em locais lotados – fila na porta, mas lugar para um sempre tem. E o serviço sempre achei muito cortês – sei lá se por pena (hahahaha) ou flerte, mas garçons e garçonetes sempre foram ultra simpáticos nessa situação.

Mas sei que essa questão é sensível para muitas pessoas, como era para mim há uns anos. Acho que muita gente tem medo de ser considerada ZEROLA pelos observantes. Lembro de uma cena (cortada, só tem no DVD) de Friends que reflete bem essa mentalidade:

Final de semana passado, já planejando meu próximo jantar solo, lembrei desse tema e dei um google “eat alone in a restaurant” e me deparei com trocentos sites com dicas de como agir caso você vá jantar sozinho. Tipo, como se você fosse um transgressor mesmo: vista aquilo, não vista aquilo, não vá em tal horário, leve isso, faça assim, faça assado.

No meio do mar do google, quero deixar um conselho diferente:

Como você vai explicar aquilo pras pessoas? – Você ainda está se justificando para as pessoas?

Nóis num tamo aqui pra julgar, mas se for para julgar, acho muito pior uma mesa cheia de gente e cada um mexendo no seu celular. Sério.

Esse último final de semana acho que meio que devo ter extrapolado as barreiras, até mesmo para os meus padrões. Fui passar um final de semana em Milão e tive um dia dos deuses e resolvi que à noite ia comer bem! Estava ali para relaxar! E como estou gostando muito de comida vegetariana, encontrei um que me pareceu muito bom. Se chama Joia e foi o primeiro restaurante vegetariano na europa a ter estrela Michelin. Lá fui eu na noite de sábado para um restaurante chic, meio romântico, com reserva para um. Quando cheguei,ao contrário de todas minhas experiências anteriores, vi que a mulher que recepcionou e os garçons meio que não sabiam o que fazer comigo. Eles não conseguiram disfarçar o desconforto. Em meio a várias salas do restaurante cheguei em uma com outras duas mesas que ainda estavam vazias. Então ocupei uma mesa sozinha numa sala. A cara da mulher que foi oferecer o pão no início foi uma coisa inexplicável. Fiquei tentando entender o que a cara dela queria dizer. Na verdade achei todos eles meio com cara de cu. Exceto o próprio Chef, que quando passou à mesa me pareceu super simpático. Mas sabe aquela preocupação de parecerem elegantes mas sem um pingo de simpatia? Nada a ver com a Itália. Deve ser pré-requisito para entrar no Michelin, ter cara de cu, sei lá. Sou muito simples, não entendo essas coisas! 🙂 Tentei quebrar o gelo com algumas nervous jokes mas não adiantou. Enfim! Mas estava faminta e ansiosa pela comida e bem feliz de estar ali – eu aprecio muito meus momentos de folga! Escolhi um menu de degustação de comida e um menu de vinhos (3 tipos).

A comida era tipo obra de arte, dava dó de comer. Sintam o drama (colei a descrição do site, preguiça) :

Saudações da cozinha. A primeira parecia um nada, mas acreditem, eu amei. Uns vegetais com vários molhinhos para você brincar com os dedos mesmo e depois lavar na água com limão. O segundo era algo muito ruim e com consistência de meleca.

Rise to the leaf: Taste landscape with our kidney beans pâtè flavoured with wasabi, avocado pesto, leeks in tempura,peanuts tempeh with pepper, cardoon with capers sauce, gently marinated vegetables and other fresh contra

Parecer: salada fabulosa e esse patezinho de wasabi OH-MY-GOD.

Tribute to Gualtiero Marches: Cream with Federica Baj’s potatoes, Piedmontese hazelnut pesto, crunchy tops of Romanesco cabbage, soft froth of fine Norcia truffle and violet potatoes

Parecer: sopa trufada e com um monte de coisa! Tinham uns crocantes indescritíveis. nham, nham! o Melhor da noite!

The navel of the world: Risotto at the Sicilian way, with oranges, turnip tops and pistachio

Parecer: risoto vegano muito gostoso, com pistache, mas já estava lutando para terminar.

Swiss dream: Moitié-moitié fondue, chopped mushrooms and truffle, Brussels sprout, artichokes and Jerusalem artichokes stewed with butter of my mountains, corn nuts, crunchy wafer with rice and black cabbage

Parecer: debaixo dessa pururuca colorida (muito boa) estava a comida, um creme de cogumelos com trufas, couve-de-bruxelas, alcachofra – muuuuuito gostoso!

5 minutes: Chocolate and blueberry terrine, mint ripple, chocolate mousse with orange brittle,
ginger white pralin

Essa sequência de doces para ser saboreada da esquerda para direita, idealmente em 5 minutos. O garçom colocou uma ampulheta na mesa – acho que foi piada, mas como sou neurótica comi tudo em 5 minutos mesmo. Putz. Devia tá muito boa. Mas eu que já não sou fã de doces, quanto mais empanturrada como estava, nem sei falar como era o gosto.

Bom, acho que a experiência super valeu a pena! Mas se for para ser sincera, nesse tipo de restaurante acho que prefiro não ir mais sozinha, não por me sentir julgada até a alma pelos atendentes, mas porque gosto de curtir aquele momento meu e da comida – mas era muita interrupção de troca de pratos, talheres, explicação de comida, intromissões – acabou retirando um pouco desse momento, sabe?

E vocês, o que pensam do assunto?

Beijos da forever alone

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  1. Elisa 09/02/2018 às 22:56

    Eu viajo muito sozinha e vou assim a restaurantes com frequência sem problemas, mas é fato que os funcionários, com frequência maior que a desejável, julgam, então é melhor ir preparado, ou não ir se isso incomodar demais…

  2. Caroli 10/02/2018 às 17:00

    Eu sempre fui de sair sozinha, viajar sozinha, jantar, ir ao cinema sozinha. Mesmo tendo bastante vida social, sempre gostei de fazer coisas sozinha. Tão mais simples, não precisa combinar nada com ninguém, horários, não precisa fazer algo que não esteja a fim. Enfim, acho uma liberdade sem tamanho. E eu sempre achei estranho o contrário, as pessoas sempre dependerem de outras pra fazer o que querem.
    Mas sempre ouço esses comentário do tipo “forever alone”, “mas não tinha ngm pra ir junto?”. Mas fico tranquila, e continuo sendo sozinha!

  3. Carolina Barcelos 10/02/2018 às 17:03

    Eu sempre fui de sair sozinha, jantar, viajar, ir ao cinema. E sempre achei estranho o contrário, as pessoas sempre dependerem de outras para fazerem o que querem. Mas sempre ouço comentário perplexos, como se eu tivesse realmente algum problema por sair sozinha “ah, mas não tinha ngm pra ir junto?”. Mas já me acostumei e sigo sendo sozinha, acho que tem tantas vantagens, pode fazer o que você realmente quiser, sem ter que depender de horários e preferencias da outra pessoa.

    • Ana 25/02/2018 às 15:49

      ta certissima!!!
      bjos

  4. karoline 11/02/2018 às 14:54

    Oi, Ana.
    Fiquei chocada de saber que até na Europa as pessoas tem preconceito quanto a mulheres que saem sozinhas. Eu confesso que também não tenho problema nenhum em fazer nada sozinha, inclusive, se tudo der certo, estarei embarcando p uma solotrip pela Europa em Maio o/
    Uma pergunta indiscreta: esses restaurantes com estrela Michelan são muito caros?????
    Ps: minha espuminha de pé acabou. Simplesmente amei. Super gostosa!!! Novamente, muito obrigada pelo presente.
    bjos

    • Ana 25/02/2018 às 15:48

      oi karol, nossa nem pensei que é por ser mulher, sera?
      michelin tem de todos os preços! sei que tem um mais longe do centro de milao que é super acessivel…
      nesse dia minha conta ficou acho q 110 euros, mas comi (e bebi hehehe) mto bjos!!

  5. Larissa Marth 22/02/2018 às 01:33

    Eu adoro sair sozinha, acho uma experiencia ótima para a autoestima e para o autoconhecimento. Já viajei sozinha, morri de medo quando fui, pensando que iria passar um mês muda, fazendo a figurante nos lugares kkkk logo descobri que isso traz várias outras coisas boas, conheci gente nova, fui em lugares que ninguém toparia ir como ou não se empolgariam da mesma forma… em fim, eu gosto!

    • Ana 25/02/2018 às 15:47

      que bom q vc tb é assim! bjoss!!

  6. Elisa Barros 22/02/2018 às 20:28

    Seu post me lembrou a minha primeira experiência sozinha na Europa. Viajei para a Turquia e peguei uma excursão que acabou sendo uma turma maravilhosa (só gente mais velha e bem resolvida). De lá segui pra Paris completamente sozinha e lembro de chegar no hotel, me ajeitar e pensar: “Putz, vou ter que comer sozinha”. Levei um livro e fui. Mal sabia eu que francês come MUITO sozinho! Depois disso fiquei em casa … todo restaurante tinha mesas de gente “avulsa”. Acho que isso é uma coisa mais latina, essa mania de estar sempre com gente. Falo isso porque depois dessa primeira vez aprendi a viajar sozinha e quase todos os lugares fico super de boa (inclusive no Sony Center, em Berlim! rs) mas Barcelona e Lisboa foram os lugares em que me senti meio peixe fora d´água. Na verdade em Barcelona em senti muito que olhavam pra mim com cara de dó. Queria pregar na testa que eu estava sozinha porque queria, porque sou casada a 10 anos mas AMO minhas viagens solo. Falo que preciso de férias do marido, voltar pro quarto de hotel e me esparramar, comer o que quero, passar horas nos meus museus preferidos! Tem lugares que só vou se for acompanhada mas a Europa é super amigável para quem viaja sozinha. Acho que a gente tem essa cultura na cabeça, de que mulher sozinha é porque está “abandonada”. Em Versailles eu almoçava tranquilamente, à beira do lago, com minha maravilhosa taça de rosé quando escutei dois brasileiros idiotas falando que eu devia ter um monte de gato me esperando em casa (a solteirona dos gatos). Como não tenho cara de brasileira, esqueceram que eu podia entender. Virei pra eles, apontei a aliança e falei que o único gato que me esperava era o marido! Depois desse dia eu parei e pensei exatamente o que você colocou aqui: “Are you still explaining yourself to people?”

    Enfim, o textão é só pra falar que a gente amadurece e aprende que dá pra ser feliz demais viajando/comendo/curtindo sozinho. E quando a gente aprende a curtir a própria cia, passa a sentir falta desses momentos.

    • Ana 25/02/2018 às 15:47

      oi Elisa, adorei seu comentario!! Que interessante, em Barcelona nao senti isso nao, varia mto ne? Nao sabia isso sobre os franceses, mas tb ainda nao fui sozinha pra frança, vou observar! bjoss!!

  7. Renata TR 12/03/2018 às 06:41

    Nossa, lendo seu post e tds os comentários, acho q preciso de um tempo pra mim, comigo mesma.
    Nunca viajei sozinha. Sempre tem uma trupe, ou ao menos 2 amigas pra ir junto.
    Tirando ficar zanzando pelo shopping, sempre me sinto extremante constrangida de entrar em restaurantes ou mesmo no cinema sozinha. As pessoas olham com aquela cara de dó, como se eu estivesse completamente abandonada. Ai acabo por não ir, na maioria das vezes. Mas como vc disse lá em cima, “Como você vai explicar aquilo pras pessoas? – Você ainda está se justificando para as pessoas?”.
    Uma reflexão necessária!

    • Ana 17/03/2018 às 19:40

      aaah se tem amigas, as aproveite!
      mas qdo surgir a oportunidade de viajar só, experimente, pode ser q vc goste! Bjooss

  8. Carol 14/05/2018 às 18:22

    O duro é a cara de dó mesmo.
    Recentemente viajei sozinha só por um fds mesmo, pq meu marido não podia e eu queria muito um momento de relax na praia.
    Não bastasse o “Uma pessoa???” que rolou no check-in da pousada, quando trocaram os turnos, o senhor me cumprimentou e não se aguentou: “Vc está sozinha?”
    Não consegui não me irritar. Pq tanto espanto???

  9. Ana Carol 04/06/2018 às 03:10

    O post é de fevereiro, tamo em junho, mas não aguentei não comentar…Eu curto demais meus momentos sozinha (mesmo sozinha em casa apenas, como agora!), tipo, AMO ir ao cinema sozinha. Na época da faculdade (por ser pertinho de um shopping), ia toda semana. Turistar sozinha acho q é o maior exemplo de liberdade de todos! Mas sair pra jantar sozinha nunca aconteceu, acredita?! Eu que me sentia tão independente, tô frustrada depois de ler o post! hahaha
    Também nunca fui a nenhum show, mas a não se q sejam daqueles sentadinha, nem sei se rola mesmo.
    Lembro de uma vez que fui num rodizio de pizza e vi um conhecido lá, sozinho. Achei mega diferente na epoca! hahah
    Enfim, assim como quando fui no cinema sozinha a primeira vez (pra ver Cisne Negro!) e AMEI a experiencia, acredito q também vou amar a de ir jantar só! O importante é q apreciamos nossa propria companhia, ne? ^_^

    Beijoss (da volta dos q não foram! hahah) ;-***

    • Ana 09/06/2018 às 19:42

      obrigada por nao me abandonar, carol (em época em q td mundo só quer ver vídeo heheh)
      ja fui no cinema sozinha uma vez, mas nesse caso nao gostei nao, hahaha
      bjos!!!

  10. Kelly 29/06/2018 às 15:34

    A primeira vez que eu entrei em um restaurante sozinha foi libertador! Estava com medo de como me sentiria, mas foi tão bom! Exatamente o lugar que eu queria estar, a comida que queria, sobremesa ou não? eu que decidi! Agora anseio o momento de estar só rsrs

    • Ana 15/07/2018 às 09:10

      Isso aí! Claro que gosto de uma boa companhia, mas acho libertador nao depender de ninguem pra ir em restaurante comer comida boa. Eu ia ter perdido tanta oportunidade se ligasse…. bjos