31
janeiro
2015

Eu, Ana C. , a mendiga do supermercado

Postado por Ana em Alemanha

Eu moro em cima de um supermercado – o que significa que vou lá pelo menos uma vez ao dia e é tipo minha segunda casa. 🙂 Como habituée do local, já notei várias cenas que se repetem:

– Quando esquenta um pouco, várias pessoas vão às compras descalças … e ninguém olha!
– Um senhor de cerca de 70 anos gosta de ir usando minissaia e saltão … e ninguém olha!
– Menininhas de 3 anos vão às compras sozinhas, maior fofura … e ninguém olha!
– Legiões de alemães usam blusas e calças furadas, super comum … e ninguém olha!

Que maravilha morar em um lugar assim, onde ninguém olha pra ninguém, cada um cuida da sua vida, né? QUASE. Pois um dia no verão passado resolvi ir comprar uma coisa rapidinho e faço como sempre faço – visto a primeira roupa que vejo pela frente e coloco uns óculos de mulher feia pra disfarçar as olheiras e pronto. Peguei uma daquelas blusinhas que ao avesso tem a estampa normal e você só vê que está do avesso quando olha a costura ou etiqueta, sabe? Por isso acabei colocando do avesso sem notar.

blusaNão estou com ela aqui para ilustrar, mas era essa

No caminho pra pegar a baguette, um senhor me alertou que a blusa estava do avesso. Agradeci e fui pegar presunto. De frente à geladeira do presunto, uma mulher me alertou sobre o avesso. Agradeci e fui ao caixa. Na fila fiz o máximo para esconder as costuras com meus braços para ninguém me avisar de novo. Daí uma velhinha que estava na fila atrás de mim me CUTUCOU e avisou toda tímida que minha blusa estava do avesso. Diz aí, @tinabeatles:

tinabeatles

Sem querer diminuir a boa intenção que todas essas pessoas tiveram (para me poupar de vergonha na rua), isso me deixou com a pulga atrás da orelha:

Teriam os alemães TOC de blusa do avesso ou sou eu que emano uma LUZ com glitter que faz com que eles prestem atenção em mim?

carebears

Quando eu descobrir conto aqui! 🙂

Beijos e bom final de semana!

08
janeiro
2015

Ana na academia alemã

Postado por Ana em Alemanha, Crônicas cosméticas

Eu sempre me achei mais “cabeça aberta” do que a média em se tratando em diferenças culturais. Não costumo julgar hábitos alheios nem taxar povos de “esquisitos” por fazer algo diferente de como nós fazemos. É tudo uma questão de ponto-de-vista no final das contas e sempre foi muito tranquilo entender isso. Em relação às diferenças culturais na Alemanha, eu pessoalmente sei que são várias mas nunca achei nada muito gritante não. Até porque eu sempre tive umas características mais alemãs do que brasileiras: pontual, não-efusiva, sou “na minha” e de contato físico com estranhos sempre preferi aperto de mão. Perfect, né? O próprio fato de vir recebendo as diferenças em “doses homeopáticas” ao longo de vários anos antes de vir me deixou muito bem preparada e nunca me deparei com uma situação que me incomodasse pela diferença.

academia

Mas sempre tem a primeira vez, né? Pra mim a primeira grande estranheza foi a “etiqueta da academia” na Alemanha. Por si só, academia aqui é bastante diferente do Brasil, em um nível que considero incômodo. Alemão que é alemão gosta mesmo é de fazer esporte ao ar livre. Ou coisas mais específicas mesmo: futebol, esqui, mountain-bike, etc. Academia é para dias frios no inverno e olhe lá. Portanto, musculação e academia não são populares igual no Brasil, apesar de a oferta ter aumentado bastante nos últimos anos. A maioria das academias só faz plano anual (apesar de ter uma aqui perto de mim – tosquinha – em que você paga só o mês que usa) e se você quiser cancelar tem que ser por escrito 4 meses antes do plano vencer, senão mais um ano será descontado da sua conta. Eu particularmente acho isso um saco! Personal Trainer (saudades, snif) é coisa de celebridade – a cena de uma pessoa inteiramente por sua conta te ajudando a fazer exercícios na academia seria algo completamente louco no contexto cultural daqui, além de muito caro (uns 100 euros por hora). Em academia de gente “normal” você vira atração turística se tiver um personal, e olha que nem sei se eles permitiriam.

Ano passado tive experiências em academia, mas elas se agudizaram essa semana quando resolvi mudar para uma academia mais equipada e high-tech. Eu sinceramente não sei o que acontece se você for brasileiramente à academia aqui – talvez alguém chame sua atenção, mas talvez ninguém fale nada e só observem te achando o maior porcalhão. Esse mico me foi poupado porque meu marido me entregou o ouro logo no início. Para compatriotas que não queiram pagar mico, explico: para começar, nada de ir para a academia já com a roupa de malhar – você leva em uma mochila e troca lá. E isso vale principalmente para o tênis – eles consideram o galpão um lugar super limpo, os instrutores até de meia ficam. A maioria dos alemães têm um tênis só para academia – então a gente leva o tênis (limpo!) na mochila também, jamais entra com ele. Outra coisa que percebi é que eles possivelmente acham o suor alheio a coisa mais nojenta do universo – você tem que levar sua toalha e SEMPRE forrar os aparelhos com ela onde seu corpo vai entrar em contato. Em aparelhos como elíptico, depois que você usa tem que limpar onde pegou com as mãos com álcool e papel toalha, como cortesia para o próximo freguês. 🙂

Por fim, ir à academia é sinônimo de “pegar uma sauninha”. Saunas aqui são um capítulo à parte, mas adianto que são muito populares, mistas e tem que ir pelado. Por isso ainda não fui e acho que vai demorar um pouco para eu abrir minha cabeça neste aspecto. 🙂 O ambiente de musculação é também bem diferente – um silêncio mortal, sem música no fundo, cada um ocupado com seu exercício e sem aqueles BONS PAPOS e gargalhadas que vemos no Brasil.

Agora a cereja do bolo – não foi apenas meu primeiro grande choque cultural aqui – foi também meu primeiro grande MICO com a língua alemã. Interessante o mico ter chegado só agora, que jurava já estar imune. Fui fazer avaliação na academia nova (isso nunca tinha feito aqui). Na hora de fazer a bioimpedanciometria o homem (lindo e alto e forte) pediu pra eu subir na balança. Ele pediu para eu tirar as meias antes. A palavra que ele usou para dizer “meias” é a segunda mais comum (eu usaria outra) e eu confundi com a palavra meia-calça. Como eu não sabia se tinha outra palavra alemã para legging eu achei que era pra eu tirar a calça. Foi tudo muito rápido, eu conhecia todas essas palavras e não sei o porquê de ter trocado. Achei estranho porque a porta da sala tava aberta, mas pensei “deve ser coisa de alemão, eles ficam pelados na sauna, né?”. O pior é que tinha colocado uma daquelas calcinhas sem costura pra usar com vestido de festa – BEGE, minha única calcinha bege. Justamente porque eu não queria marca nenhuma na legging para ser o mais discreta o possível no primeiro dia. CALÇOLA de vó. Daí eu tiro a calça, olho pra cara do homem e percebo meu erro. Sabe aquele episódio de Friends em que o Ross tenta beijar a prima e daí fica em silêncio pensando no que vai dizer, pensando “SAY SOMETHING!!!” – pois é, foi tipo isso – eu só disse “ai, entendi errado, no Brasil é assim“. kkkkkkkkk Cadê o buraco para eu enfiar a cara?

Pior que depois eu ainda não sei se quero ir pra essa academia mesmo – fiz o teste e achei muito salgado para o que promete. Acho que vou continuar na minha tosca com os halterofilistas desdentados.

* Obs: Meu instagram novo –> http://instagram.com/anacris.lc

Beijos!

02
dezembro
2014

Os fiu-fius das ruas

Postado por Ana em Alemanha, Coisas da Ana

Essa semana houve uma polêmica grande aqui . Uns rapazes estavam assediando adolescentes em um McDonald’s na cidade de Offenbach e ninguém fazia nada para ajudar e daí uma garota interviu. Na saída, um dos rapazes estava à sua espera, deu-lhe um soco e ela caiu, bateu a cabeça no chão e entrou em coma. Morreu alguns dias depois. Isso reacendeu a discussão sobre a violência contra mulher e essa jovem virou uma espécie de mártir anti-machismo.

pensador

Se tem uma pessoa que não faz o estilo gostosona essa sou eu. Sou franzina, não uso roupa curta nem decotes (porque não faz meu estilo mesmo). Tampouco tenho curvas voluptuosas. Só que isso não foi empecilho para uma vida inteira de merdas ouvidas na rua. Passei os últimos anos indo e voltando a pé do trabalho e por isso ouvindo todo tipo de coisa. Não são somente as palavras de baixo calão que irritam – eu dispenso os “bom dia” jocosos que não são dirigidos também às velhinhas ou aos homens que passam no mesmo local. Lembro que nesse trajeto havia uns pontos críticos : uns homens à toa que trabalham em uma sede do jornal “Hoje em dia” mas ficam batendo papo na calçada antes e nos intervalos do expediente. Uns manobristas desocupados em frente a um estacionamento. E o clichê: alguns pontos em construção ao longo de todo o caminho. Eu evitava esses pontos porque eu sinto um ódio tão fulminante quando ouço qualquer coisa que só pode fazer mal pra minha saúde e eu prefiro evitar a fadiga. O resultado era um trajeto em zigue-zague completamente ridículo para evitar esses pontos. Quando eu ia com meu pai sentia o pequeno gosto da liberdade de não ter que alterar o trajeto. Meu pai é idoso e pequeno mas o bigode o dá um quê de coronel. Quem iria arriscar? Eu ficava triste porque nessas horas eu queria muito ser homem, ou pelo menos ter esse direito que eles têm.

Eu tentei vários tipos de abordagem – ignorar, xingar, dar lição de moral, falar bom dia veementemente, entre outras bizarrices tipo fingir que achava que o homem era paciente e perguntar se o tratamento da gonorréia surtiu efeito. Mas nada teve um bom resultado. Só não enxerga quem não quer: o fato de eu ter que fazer esse caminho maluco ou mesmo desistir de usar saias em dias quentes era uma violência que eu sofria todos os dias – pelo menos essa era percepção que eu tinha. “Ah, ignora!!!”. Sério, não sou obrigada.

Essa questão foi portanto um alívio grande que senti ao mudar de país. Na Alemanha os homens não mexem como no Brasil. Eles geralmente não dão aquelas viradas de cabeça pra ver uma bunda passando nem nada disso. Isso não é bem visto para eles, não é motivo de se sentir foda perante os amigos, deve ser meio queima-filme até, então não é nada comum sofrer esse tipo de assédio. Quem quer faz topless à beira do rio sem ser incomodada, vai à sauna nua sem ninguém mexer, etc.

Pois estava eu saindo de casa ontem à noite, passo em frente a um homem encostado na esquina que vira e fala em bom alemão “Guten abeeeeend” (“Boa nooooite”) naquele tom horrendo que nós conhecemos bem. Putz, meu mundo caiu. Já imaginei uma cena – bebendo direto de uma garrafa de Absolut, tocando Total Eclipse of The Heart ao fundo, o abraçando lateralmente daquele jeito bebum, chorando e com o rímel escorrendo e falando pra ele “Por que????? Por que? Why godddd why?“.

Pois foi isso que me deu vontade de fazer ali. Mas só ignorei com aquela mesma cara de tacho de sempre e fui encontrar minha amiga no Mercado de Natal – só que especialmente decepcionada.

Beijos quase sem esperança

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