Eu sempre me achei mais “cabeça aberta” do que a média em se tratando em diferenças culturais. Não costumo julgar hábitos alheios nem taxar povos de “esquisitos” por fazer algo diferente de como nós fazemos. É tudo uma questão de ponto-de-vista no final das contas e sempre foi muito tranquilo entender isso. Em relação às diferenças culturais na Alemanha, eu pessoalmente sei que são várias mas nunca achei nada muito gritante não. Até porque eu sempre tive umas características mais alemãs do que brasileiras: pontual, não-efusiva, sou “na minha” e de contato físico com estranhos sempre preferi aperto de mão. Perfect, né? O próprio fato de vir recebendo as diferenças em “doses homeopáticas” ao longo de vários anos antes de vir me deixou muito bem preparada e nunca me deparei com uma situação que me incomodasse pela diferença.
Mas sempre tem a primeira vez, né? Pra mim a primeira grande estranheza foi a “etiqueta da academia” na Alemanha. Por si só, academia aqui é bastante diferente do Brasil, em um nível que considero incômodo. Alemão que é alemão gosta mesmo é de fazer esporte ao ar livre. Ou coisas mais específicas mesmo: futebol, esqui, mountain-bike, etc. Academia é para dias frios no inverno e olhe lá. Portanto, musculação e academia não são populares igual no Brasil, apesar de a oferta ter aumentado bastante nos últimos anos. A maioria das academias só faz plano anual (apesar de ter uma aqui perto de mim – tosquinha – em que você paga só o mês que usa) e se você quiser cancelar tem que ser por escrito 4 meses antes do plano vencer, senão mais um ano será descontado da sua conta. Eu particularmente acho isso um saco! Personal Trainer (saudades, snif) é coisa de celebridade – a cena de uma pessoa inteiramente por sua conta te ajudando a fazer exercícios na academia seria algo completamente louco no contexto cultural daqui, além de muito caro (uns 100 euros por hora). Em academia de gente “normal” você vira atração turística se tiver um personal, e olha que nem sei se eles permitiriam.
Ano passado tive experiências em academia, mas elas se agudizaram essa semana quando resolvi mudar para uma academia mais equipada e high-tech. Eu sinceramente não sei o que acontece se você for brasileiramente à academia aqui – talvez alguém chame sua atenção, mas talvez ninguém fale nada e só observem te achando o maior porcalhão. Esse mico me foi poupado porque meu marido me entregou o ouro logo no início. Para compatriotas que não queiram pagar mico, explico: para começar, nada de ir para a academia já com a roupa de malhar – você leva em uma mochila e troca lá. E isso vale principalmente para o tênis – eles consideram o galpão um lugar super limpo, os instrutores até de meia ficam. A maioria dos alemães têm um tênis só para academia – então a gente leva o tênis (limpo!) na mochila também, jamais entra com ele. Outra coisa que percebi é que eles possivelmente acham o suor alheio a coisa mais nojenta do universo – você tem que levar sua toalha e SEMPRE forrar os aparelhos com ela onde seu corpo vai entrar em contato. Em aparelhos como elíptico, depois que você usa tem que limpar onde pegou com as mãos com álcool e papel toalha, como cortesia para o próximo freguês. 🙂
Por fim, ir à academia é sinônimo de “pegar uma sauninha”. Saunas aqui são um capítulo à parte, mas adianto que são muito populares, mistas e tem que ir pelado. Por isso ainda não fui e acho que vai demorar um pouco para eu abrir minha cabeça neste aspecto. 🙂 O ambiente de musculação é também bem diferente – um silêncio mortal, sem música no fundo, cada um ocupado com seu exercício e sem aqueles BONS PAPOS e gargalhadas que vemos no Brasil.
Agora a cereja do bolo – não foi apenas meu primeiro grande choque cultural aqui – foi também meu primeiro grande MICO com a língua alemã. Interessante o mico ter chegado só agora, que jurava já estar imune. Fui fazer avaliação na academia nova (isso nunca tinha feito aqui). Na hora de fazer a bioimpedanciometria o homem (lindo e alto e forte) pediu pra eu subir na balança. Ele pediu para eu tirar as meias antes. A palavra que ele usou para dizer “meias” é a segunda mais comum (eu usaria outra) e eu confundi com a palavra meia-calça. Como eu não sabia se tinha outra palavra alemã para legging eu achei que era pra eu tirar a calça. Foi tudo muito rápido, eu conhecia todas essas palavras e não sei o porquê de ter trocado. Achei estranho porque a porta da sala tava aberta, mas pensei “deve ser coisa de alemão, eles ficam pelados na sauna, né?”. O pior é que tinha colocado uma daquelas calcinhas sem costura pra usar com vestido de festa – BEGE, minha única calcinha bege. Justamente porque eu não queria marca nenhuma na legging para ser o mais discreta o possível no primeiro dia. CALÇOLA de vó. Daí eu tiro a calça, olho pra cara do homem e percebo meu erro. Sabe aquele episódio de Friends em que o Ross tenta beijar a prima e daí fica em silêncio pensando no que vai dizer, pensando “SAY SOMETHING!!!” – pois é, foi tipo isso – eu só disse “ai, entendi errado, no Brasil é assim“. kkkkkkkkk Cadê o buraco para eu enfiar a cara?
Pior que depois eu ainda não sei se quero ir pra essa academia mesmo – fiz o teste e achei muito salgado para o que promete. Acho que vou continuar na minha tosca com os halterofilistas desdentados.
* Obs: Meu instagram novo –> http://instagram.com/anacris.lc
Beijos!