Eu tenho impressão que minha história com a língua alemã é bem diferente do que muitos pensam. Bem menos admirável e inspiradora, pois quem me pergunta isso geralmente tem um objetivo e quer aprender logo! 🙂 O ano era 2003 e eu tinha acabado de passar no vestibular. No ano anterior, quis aprender francês, mas por causa dos estudos não tinha como. Minha irmã me copiou e, teimosa que sou, mudei de idéia. Pensei: “vou então aprender uma língua bem diferente do português”. Como sempre gostei de coisas da Rússia, me decidi pelo russo. Na época, procurei escola/professor de russo em BH e não achei! Daí, um dia, vi um ônibus passando com a propaganda do Cultura Alemã em BH. “Hummmm, alemão, por que não?”- fui lá e me matriculei.
A forma como estudei alemão foi bem diferente de como estudo línguas hoje (tema para outro post). Eu não tinha nenhum objetivo envolvendo a Alemanha. Eu sequer tinha curiosidade de vir para cá (que veio depois graça às lições de comida dos livros). Muito pelo contrário, queria que fosse meio uma “slow food” no aprendizado de línguas. A faculdade era bem puxada nos primeiros dois anos e o sábado de manhã era minha catarse. Eu gostava de levantar e ir pra aula – gostava dos meus colegas, que aliás foram diversos ao longo de todos os anos. Adorava a pausa da manhã pro salgado na lanchonete da esquina. Quando a aula era cancelada por algum motivo eu ficava triste de verdade. Uma coisa tenho que dizer: aula em grupo é a forma mais lenta de aprender línguas, caso seja a única forma de estudo. Quem não sabe disso, fique sabendo. Eu não fazia muito esforço em casa – lembro que fazia meus deveres de casa e repassava o vocabulário das lições (que são percorridas super vagarosamente). Eu nem tinha muito tempo porque tinha que estudar pra faculdade à noite! Uma coisa que realmente sempre gostei de fazer foi procurar algumas músicas na internet. Mas fora isso, zero dedicação extra nos primeiros dois anos. Lembro que, após o primeiro semestre, a professora me falou “Ana, seus colegas vão fazer curso de férias, você não quer fazer?“. Eu respondi “Ah, não, não tenho pressa, nem planos de Alemanha“. Acho que tinham uns 14 níveis lá no Cultura Alemã – eu fiz doze pois “pulei” dois quando fiz meu intercâmbio de um mês em Colônia.
Fluência?
Então é por isso que, quando recebo a pergunta “depois de quanto tempo você ficou fluente em alemão?” acho super difícil de responder. Foi um processo muito vagaroso – e por opção minha – não sofri nada por causa da língua. Achei o alemão básico fácil de aprender. Já o alemão avançado e suas nuances, acho muito difícil. Sei que, 3 anos depois, em Colônia, eu me virava bem em alemão (B1/B2) – mas não com muita facilidade, principalmente para ouvir – que foi uma parte fraquíssima da minha escola. O conceito de fluência é complicado. Para começar, ser fluente não significa não cometer erros. Para mim, significa se virar bem sem apertos. Geralmente, quem insiste muito na palavra “fluente” ainda não sabe muito do aprendizado de línguas. E, para ser sincera, eu me senti realmente confortável com a língua em algum momento de 2015. Foi quando eu soube que, se alguém dirigisse a palavra a mim, eu ia entender. Antes era sempre uma incógnita se eu ia entender a pessoa ou não. Meu “ouvido” foi a última parte a se desenvolver bem.
“Métodos”
Fora o curso tradicional que mencionei, fiz um mês de curso em 2006 no finado Eurocentres de Colônia. Em 2010, um curso de 2 meses na Volkshochschule em Kiel para preparar pro Testdaf. Em algum momento em 2010 fiz dois meses de aula particular com um professor (péssimo) em BH. E foi essa toda minha experiência com aulas. Os livros no Cultura Alemã eram na época o Themen Neu, que depois virou Themen Aktuell e uma série do EM. Não gostava do livros do EM, mas a gramática de exercícios deles foi a minha favorita. Quando comecei a fazer “esforço extra-aula”, após uns anos, foi lendo livros, vendo TV, comprando gramáticas de exercício, lendo notícias, falando, ouvindo, ou mesmo através de materiais para aprender outras línguas. Em um momento era viciada em comprar livros infantis, bem bobos mesmo (mas em termos de vocabulário nem são os mais fáceis de ler). Já tive época de dar download em tudo quanto é app (tipo buzuu, algo assim). E, atualmente, aprendo muito trabalhando. Realmente houve uma época em que comprava uma quantidade absurda de material e ia fazendo em casa mesmo… a maioria esmagadora atualmente está em BH, por isso não tinha muita coisa pra tirar foto. 🙂 Também já fiz muita coisa do site da Deutsche-Welle(que, aliás, tem um curso magnífico) e em uma época imprimi muita coisa de lá, algumas lições que fazia e ia estudando. Até hoje os sigo no facebook e assino a Newsletter, adoro! Já a DW-TV (canal de TV) que tem no Brasil sempre achei uó e nunca consegui assistir. Também sigo outras páginas no Facebook, como o excelente Quero Aprender Alemão. Em relação aos dicionários: acho que fiquei uns três anos só com mini dicionário Michaelis, depois passei pros Langenscheidt. E já faz muitos anos que uso o site/app dict.cc ou Duden Online ou mesmo Wiktionary. Perdi completamente a paciência com dicionários de papel, he he!
Mudar para a Alemanha faz aprender mais rápido?
Só se você estudar. Engana-se quem pensa que morar na Alemanha garante aprender a língua. Eu mesma achava que isso era uma verdade. Até mesmo após mudar para cá, achei que ia “melhorar de graça”. Pois em 2014 minha evolução foi ínfima. Melhorei mesmo quando comecei a trabalhar. Não é uma língua que se aprende por osmose para nativos do português. Eu consigo imaginar facilmente uma pessoa morando dez anos aqui sem aprender direito, caso não estude. Tenho pacientes de outras nacionalidades que moram aqui há 30 anos (!) e mal falam alemão. Por outro lado, super concordo com o Benny. Se for realmente seu objetivo e você “trabalhar com isso”, você consegue atingir um bom nível em três meses. Mas tem que ficar por conta e se esforçar muito.
É isso, sempre recebo essa pergunta e sei que a resposta é muito menos formosa e mágica do que muitos pensam, mas eis aí como foi! 😉
Beijos